Haddad foi mais atacado que Bolsonaro no seu primeiro debate eleitoral

O debate de quinta-feira à noite na TV Aparecida - TV da Nossa Senhora foi a estreia do candidato do PT, depois de o partido ter sido obrigado a abandonar Lula.

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Ciro Gomes aproveitou a ida à emissora católica para fazer campanha na Basílica de Nossa Senhora da Aparecida Paulo Whitaker/Reuters

Era mais um debate com Jair Bolsonaro no hospital, por ter sido esfaqueado durante a campanha. Mas não foi apenas a ausência do candidato de extrema-direita às presidenciais brasileiras que justificou que Fernando Haddad tenha sido o grande alvo no debate organizado quinta-feira à noite pela TV Aparecida — a TV da Nossa Senhora, um canal da Igreja Católica que é o sétimo mais visto no país. 

Todos se quiseram distanciar das propostas de Bolsonaro, mas sobretudo quiseram atacar o representante do Partido dos Trabalhadores, que substituiu Lula da Silva que é inelegível por estar preso por corrupção.

Se todos se quiseram desmarcar das propostas de Bolsonaro, ainda com mais intensidade fizeram questão de se apresentar como o candidato certo para impedir que o PT tenha hipóteses de passar à segunda volta — a primeira é a 7 de Outubro e, de momento, Bolsonaro lidera seguido de Haddad. 

Nesta campanha o debate contra a corrupção tem estado ausente num país onde todos os partidos têm representantes na prisão ou sob investigação. Mas a luta do PT para manter Lula no boletim de voto manteve a palavra — não o debate — debaixo dos focos. Por isso, o candidato Geraldo Alckmim (do Partido da Social Democracia Brasileira, centro) afirmou: “Todos os partidos deveriam fazer uma auto-crítica, mas o PT lançou o seu candidato à porta da prisão”. Foi à porta da prisão de Curitiba onde está Lula que Haddad foi confirmado candidato, ao som do slogan “Haddad é Lula”. 

Henrique Meirelles (Movimento Democrático Brasileiro, direita, o partido do impopular Presidente Michel Temer, suspeito de corrupção), associou Haddad a Dilma Rousseff, a chefe de Estado destituída. Ciro Gomes (Partido Democrático Trabalhista, esquerda), que quer ser o aglutinador dos votos dos que não querem ver o PT de novo na presidência e governo e dos que não querem eleger Bolsonaro, chamou “pinicadinha” (bicadinhas) a Haddad, acusando o PT de, em 14 anos de poder, não ter feito mais do que pequeninas coisas para reduzir a desigualdade no país. E Álvaro Dias (Podemos-PR, de direita, o partido que mais cresceu no número de presidências de câmara em 2016), considerou Haddad o “porta-voz da tragédia, o representante do caos”, segundo o site noticioso UOL. 

Logo na sua primeira intervenção, contam o site noticioso UOL e o El País Brasil, Haddad fez questão de mencionar o ex-Presidente Lula da Silva e usou parte do tempo que lhe calhou para reivindicar o seu legado. E Lula, preso desde Abril, foi o motivo de uma das perguntas, da parte ao arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer, que quis saber as propostas do candidato do PT para combater a corrupção. Haddad não esteve brilhante na resposta. “Para isso precisamos ter uma controladoria, uma Polícia Federal e uma Justiça forte e apartidária”, disse, afirmando que o PT fortaleceu essas instituições enquanto esteve no Governo.

As principais críticas a Jair Bolsonaro surgiram de Meirelles, Guilherme Boulos (Partido Socialismo e Liberdade, esquerda) e Marina Silva (Rede, ecologista). Mas por Bolsonaro estar hospitalizado, os ataques dirigiram-se às suas propostas para combater a violência no Brasil e económicas. 

Depois do debate, os analistas disseram que o confronto se resumiu ao que já se sabia: esta é uma eleição de "petistas" contra "anti-petistas", com candidatos a quererem posicionar-se num centro agregador e reformista. “Vamos ver se isso serve para balançar a polarização que se desenha entre Bolsonaro e Haddad”, disse ao El País Brasil Eduardo José Grin, professor na Fundação Getulio Vargas.

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