Maduro procura na China uma bóia de salvação para a crise financeira

Presidente chavista deslocou-se a Pequim para suplicar um novo empréstimo a Xi Jinping. Foram para já fechados 28 acordos de cooperação nos sectores petrolífero, mineiro e de telecomunicações.

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Nicolás Maduro foi recebido por Xi Jinping Reuters/HANDOUT
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Maduro deposita coroa de flores no mausoléu de Mao Tsetung Reuters/HANDOUT
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Comitiva venezuelana à chegada ao aeroporto EPA/PRENSA MIRAFLORES HANDOUT
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Negociações de sexta-feira Reuters/HANDOUT

Com a Venezuela afogada numa das maiores crises económicas e sociais da sua História, Nicolás Maduro decidiu ir bater à porta de um dos poucos aliados que ainda tem, a China. O Presidente venezuelano aterrou na quinta-feira em Pequim para uma viagem de quatro dias, movida por um objectivo claro: obter um empréstimo de cinco mil milhões de dólares (cerca de 4,3 mil milhões de euros), de forma a combater a hiperinflação gigantesca que assola o país. 

Xi Jinping está disposto a ajudar Caracas, mas não abre o jogo. O plano de expansão da influência chinesa pela América Latina levou-o a investir um total de 50 mil milhões de dólares na Venezuela nos últimos dez anos, maioritariamente através de acordos energéticos. Mas as dificuldades sentidas por Caracas para compensar esse investimento, em grande parte devido à fragilidade da sua economia e à queda do preço do petróleo, obrigaram Pequim a reduzir o financiamento, a partir de 2015, e a ponderar melhor as suas opções.

Para já sabe-se apenas que os dois países assinaram 28 acordos comerciais, em sectores como o petrolífero, o mineiro ou o das telecomunicações. Entre os compromissos oficializados na sexta-feira destacam-se o investimento chinês de 184 milhões de dólares na empresa conjunta Petrozumano, a compra chinesa de 9,9% das acções da petrolífera venezuelana Sinovensa e a perfuração chinesa de mais 300 poços de petróleo na região de Ayacucho. 

Para além disso, Pequim pretende que Caracas desenvolva políticas concretas que proporcionem uma maior protecção legal às empresas chinesas que operam na Venezuela. 

“A China vai ajudar a Venezuela dentro das suas capacidades. Vamos apoiar o empenho venezuelano para o desenvolvimento da sua economia e para melhorar o nível de vida da sua população”, afiançou o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, citado pelo South China Morning Post, sem relevar, no entanto, se a referida ajuda inclui o empréstimo desejado pelo regime chavista.

Homenagem a Mao

Neste seu périplo pela China, que termina domingo, o líder chavista encontrou-se com o presidente Xi, com o primeiro-ministro Li e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, e participou ainda numa série de fóruns empresariais. Para além disso, fez questão de homenagear Mao-Tsetung. De visita ao mausoléu do ditador comunista, em Pequim, Maduro revelou-se “emocionado” por poder honrar “o gigante das ideias revolucionárias” e “fundador do mundo multipolar do século XXI”.

O Presidente também não levantou o véu sobre a possibilidade de empréstimos, limitando-se a celebrar a assinatura dos 28 acordos e a dizer que “recebeu todo o apoio” da China para “impulsionar” o programa de recuperação económica da Venezuela.

Com o Fundo Monetário Internacional a projectar para o país latino-americano uma inflação de um milhão por cento em 2018, Maduro reagiu com a criação de uma nova divisa – que não foi mais do que uma desvalorização brutal do bolívar – indexada à criptomoeda petro. A medida não trouxe melhorias substanciais à precária situação económica e foi insuficiente para travar a fuga maciça de venezuelanos do país, pelo que há quem veja nesta visita de Maduro à China uma jogada de desespero.

Em declarações à CBC News, o antigo embaixador da Venezuela nas Nações Unidas e crítico do regime, Diego Arria, diz que há sérios riscos de o Presidente vender outros sectores e infra-estruturas à China. “Nesta fase de colapso da economia e do próprio regime, acredito que Maduro esteja disposto a vender a agricultura a qualquer preço. A concessão dos portos também é um potencial brinde. Não há limites para aquilo de que ele pode abdicar a favor dos chineses”, lamenta o diplomata.

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