Helio Flanders, voz dos Vanguart: “Para mim a música é a palavra”

O cantor e compositor brasileiro Helio Flanders, voz da banda Vanguart, apresenta-se a solo em Lisboa este domingo, no Espaço Espelho d’Água. E prepara-se para gravar um disco em italiano.

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Voz da banda brasileira Vanguart, Helio Flanders apresenta-se ao vivo em Lisboa este domingo, às 19h, no Espaço Espelho d’Água, que regularmente recebe músicos brasileiros. Tem um álbum a solo e um single, mas a sua apresentação em Belém (onde se acompanhará ao violão e piano) será, diz, maioritariamente preenchida com temas do grupo, ainda pouco conhecido em Portugal.

Nascido em 6 de Dezembro de 1984 em Cuiabá, Mato Grosso, Helio Flanders tinha aos 14 anos uma banda chamada Valium, muito influenciada pelo glam rock. A banda acabou e ele virou-se para a folk. “Não foi uma escolha, foi uma necessidade. Comecei a compor com o violão e a gravar em casa. Daí nasceram dois álbuns, se é que eu posso chamar de álbuns.” Ready To… e The Noon Moon, dos quais se perdeu o rasto. “Fiz o caminho contrário. Geralmente, você monta uma banda e vai compor, mas eu compus sozinho e chegava nas pessoas e dizia: ‘ouça, quer tocar comigo?’ Foi assim que recrutei pessoas das melhores bandas de Cuiabá para tocar comigo, com o mote de que era só um projecto. Aí as bandas deles foram acabando e o projecto virou banda.”

Foi assim que nasceu a Vanguart, que começou a rodar pelos palcos brasileiros em 2004. Antes, porém, Helio quis viajar até à Bolívia, vizinha da sua cidade natal. Tinha 18 anos, acabado de completar o colégio e não queria entrar logo na Universidade. Além disso, tinha “por base” na Bolívia um tio, que ali já geria (com êxito) dois restaurantes. “Quis me reinventar, pesquisando sei lá o quê, num auto-exílio louco. Fiquei lá uma gestação, nove meses!” Na Bolívia, Helio estudou a música latino-americana. “E fui pesquisando, claro, do García Márquez ao Neruda. Porque para mim a música é a palavra, a palavra vem primeiro. Então pesquisei muito do idioma, da poética hispânica, e aí voltei para a banda.” Foi então que a Vanguart começou a tomar forma, ainda em Cuiabá, em 2004, não tardando a fixar-se em São Paulo dois anos depois, em 2006.

Sempre novos começos

Com essa experiência e a dos restantes elementos, o disco de estreia do grupo, intitulado apenas Vanguart (2007), tinha letras em português, inglês e espanhol. “Os jornalistas da época diziam: ‘não façam isso, vocês estão loucos’. Só que a gente era aquilo.” E o disco foi bem acolhido. Desde então o grupo lançou mais quatro álbuns: Boa Parte de Mim Vai Embora (2011), Muito Mais Que o Amor (2013), Muito Mais Que o Amor Ao Vivo (2016), Beijo Estranho (2017, reeditado com extras em 2018). Paralelamente, Helio Flanders estreou-se a solo. Primeiro com Uma Temporada Fora de Mim (2015) e depois com um single, Forasteiro (2016), ambos disponíveis nas plataformas digitais.

“Agora estou terminando o meu primeiro livro e vou até Itália gravar um single em italiano. Sempre novos começos. Tenho 33 anos e em vez de prosseguir parece que estou começando de novo a cada passo.” Itália porquê? Ele adianta duas razões: “O meu bisavô é italiano e eu estou muito inspirado num excerto de poesia do Pasolini chamado Hobby del sonetto, a partir daí comecei a musicá-lo e a compor em italiano.” Não é a primeira abordagem à língua italiana na sua música, pois o álbum de 2015 inclui um tema chamado Pronto per il mondo, com uma letra curtíssima: “Se vinco contro me stesso/ sono pronto/ per il mondo” (“Se me vencer a mim mesmo, estou pronto para o mundo”). “Agora vou gravar coisas em italiano, e esta é a primeira vez que eu digo isso à imprensa, é algo novo.”

O show do cantautor Helio

A passagem por Portugal, agora, também o incentiva noutros caminhos. “Fatalmente, gravarei coisas inéditas em português, com Vanguart ou sem Vanguart. Sinto que preciso de trazer a minha expressão poética para cá, falar para as pessoas aqui.” Helio já tocou em Lisboa em 2016, apresentando o seu álbum a solo num festival na Mouraria. “Aí, fiz o show desse álbum. Mas agora, depois de 15 anos de carreira, quero fazer o show do cantautor Helio. E 70% do show será com material do Vanguart. E talvez toque um Dorival Caymmi ou um Lou Reed, quem sabe?”

Pelo Espaço Espelho d’Água já passaram vários músicos brasileiros: Bianca Gismonti (com Maria João), Tiê, Pélico, Tulipa Ruiz, Filipe Catto, César Lacerda, Camará, Túlio Mourão, Felipe Antunes (com Jackeline Stefanski), Fernando Catatau, Bruna Caram, Maíra Baldaia, Paulo Padilha, Guilherme Ventura, Luciano Maia, Wanda Sá, Javier Subatin e a banda Silibrina.

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