Guy Pearce: “O estigma associado a fazer televisão já não existe”

Um actor que começou nas novelas televisivas e se tornou o rosto de Memento, de Christopher Nolan, fala com o PÚBLICO sobre o seu regresso à TV. The Innocents chega esta sexta-feira ao Netflix a pedir binge watching.

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Guy Pearce é Halvorson Netflix
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Halvorson encaixa no perfil-tipo do cientista perturbador Netflix
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Hania Elkington e Simon Duric Aimee Spinks/Netflix
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Por estes dias, Guy Pearce está numa roda-viva mediática – daquelas previstas e desejadas, destinadas a promover um novo trabalho que está a ser bem recebido e que trouxe o actor australiano de volta a um protagonismo que, na verdade, nunca teve. Pode ser preciso lembrar o grande público de que ele é o rosto de Memento, de Christopher Nolan, mas a partir desta sexta-feira a audiência do Netflix vai encontrá-lo em The Innocents. É o seu regresso à televisão, onde começou nos anos 80, com algo completamente diferente, a novela australiana Vizinhos

Agora, sob a capa dos chamados temas de “jovens adultos”, ajuda a contar uma história de amor e de sobrenatural. The Innocents é uma das apostas de um Verão televisivo mortiço – depois dos últimos anos cheios de boas surpresas na programação estival como The Night Of, Twin Peaks ou Stranger Things – que a crítica está a elogiar. São oito episódios de uma história sombria e constrita, filmada no Reino Unido e na Noruega, que arrebatou Pearce “pela complexidade do guião e pelo facto de lidar com diferentes géneros” ficcionais, diz-nos ao telefone a partir de Londres, onde passou vários dias a receber a imprensa depois de fazer a ronda dos talk shows americanos. Harry e June (Sorcha Groundsell e Percelle Ascott) são os jovens apaixonados em fuga de uma região isolada e de um pai controlador que seda a filha. “Mas há um elemento do shapeshifting que vem do sobrenatural, ou da ficção científica”, tenta explicar o actor de 50 anos sobre as personagens que, na série, mudam de figura para se parecerem com outros humanos.

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Sim, é mais uma série de tom misterioso e com um toque de transcendente, mas “uma das boas coisas é que é muito realista, por tratar a questão como uma condição médica”, explica. A última vez que Guy Pearce mudou de forma foi quando encarnou uma drag queen em Priscilla Rainha do Deserto (1994), acabado de sair de Vizinhos, onde também debutou Kylie Minogue. Foi depois o detective de L.A. Confidencial (1997), atingiu o quase estrelato com Memento (2000), e desde então tem pontuado em Estado de Guerra (2008), O Discurso do Rei (2010)Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017).

Nunca deixou a televisão, sobretudo da HBO, canal para o qual integrou o elenco de Mildred Pierce (2011) e When We Rise (2017). Porém, não tem bem noção do que se passa nesse universo: “Tenho de confessar que não sou um grande espectador de televisão, não estou a par das séries que andam por aí”, diz ao PÚBLICO o actor, que agora se estreia no Netflix e nesse admirável mundo novo do streaming.

O que o leva então a escolher uma personagem de televisão nesta altura, depois de tanto cinema e do trabalho com realizadores como Christopher Nolan, Kathryn Bigelow e Ridley Scott? Halvorson, a sua personagem, corresponde ao perfil-tipo do cientista perturbador que o actor australiano resume como sendo alguém com grande ego, mas que, no fundo, não passa de “um rapazinho que não sabe lidar com a autoridade”. Ao escolhê-lo, estava a agarrar uma personagem que o atraiu, mas também, lá acaba por desvendar, a agarrar a possibilidade que ela carrega consigo: “Todos os orçamentos situados entre os dez e os 60 milhões de dólares estão agora na televisão, quando costumavam estar nos chamados filmes de segunda linha”. “Por isso há muito mais bons guiões em televisão do que costumava haver e as oportunidades para os actores são muito maiores.”

O investimento em televisão, reflecte, compensou: "Nos últimos dez ou 15 anos, a qualidade melhorou imenso. Há muito mais foco na boa televisão e na boa produção de serviços de streaming”, detalha. “O estigma associado a fazer televisão já não existe. Obviamente sempre houve boa televisão, mas no passado toda a gente escolheria fazer cinema.”

Quando falamos sobre a profusão de produções e sobre o ritmo particular de The Innocents, que resiste à rapidez de tantas séries que hoje dão quase tudo ao espectador logo à partida, Pearce anima-se. “É refrescante, especialmente enquanto actor, não estar a explicar coisas o tempo todo, e poder dar espaço ao público para ser inteligente”, comenta. A série, criada e escrita por Hania Elkington e Simon Duric na sua primeira incursão como showrunners, é dominada pelo mistério, ingrediente tão importante para a plataforma Netflix, que se distingue pela possibilidade que dá ao espectador de ver tudo de uma só vez em modo binge watching. “A curiosidade, do ponto de vista do público, não é necessariamente uma coisa má. Põe as pessoas a quererem mais. Longe vão os tempos de explicar tudo ad infinitum, esperemos.

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