A economia entre o suficiente e o suficiente mais

Depois de 17 trimestres de crescimento consecutivo, a economia regista uma vitória e um empate: enterrou a memória da troika, mas continua longe dos Estados mais dinâmicos.

A economia voltou a recuperar no segundo trimestre um bom ritmo de crescimento. Era expectável, mas uma boa notícia não deixa de ser uma boa notícia até quando é esperada. E é-o ainda mais quando a tendência de crescimento do produto se mantém após 17 trimestres consecutivos, ainda que desta vez se deva registar que o investimento abrandou e o consumo privado cresceu. Portugal enterrou os traumas do ajustamento e entrou num novo ciclo da sua história económica – o que impõe uma leitura actualizada do contexto. Já não basta o regozijo com o fim do ciclo das recessões: é preciso reflectir sobre se o ritmo de crescimento é satisfatório e, principalmente, se não corremos o risco de cair num estado de auto-satisfação que nos condena a ficar cada vez mais na cauda da União Europeia.

Esse debate já teve início e, como seria de esperar, é muito marcado pelas naturais divergências da política partidária. Para o Governo, o desempenho da economia é uma boa notícia que dispensa leituras comparativas; para a oposição, Portugal está bem mas não está suficientemente bem para se colar ao pelotão da frente das economias mais avançadas. Na análise, ambos têm razão: poucos ousariam dizer há quatro ou cinco anos que o país fosse capaz de se desfazer do pesadelo da troika tão depressa; mas, nota o PSD, o CDS e alguns dos principais economistas, está na hora de enterrar o passado, olhar os dados do presente e reparar que, se Portugal cresce acima da média europeia, a verdade é que os países com os quais compete mais ombro a ombro estão a portar-se melhor. Houve 13 países a crescer mais do que Portugal.

Numa conjuntura externa positiva como a destes anos, seria obrigatório que Portugal crescesse mais e mantivesse a distância em relação aos seus competidores directos. Não o conseguindo, está condenado a perder posições e ver outros países do bloco do Leste a ultrapassá-lo. Mas se essa preocupação faz sentido, há outra abordagem imperiosa: Portugal tem hoje uma estabilidade política, uma infra-estrutura, um nível científico e uma disponibilidade de recursos humanos que reclamam outra ambição. Não basta dizer que o ciclo é bom; é preciso dizer que pode e deve ser melhor.

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