Moscas e brisas

Com o calor que está a felicidade restante depende dos caprichos das brisas e das moscas.

Quis o acaso que nestes dias de calor eu almoçasse sempre peixe frito, arroz de tomate e salada de tomate e pepino. A Maria João apronta o arroz de tomate em casa e depois negoceia a conclusão com a cozinha do restaurante.

Em Agosto, felizmente, estas negociações têm corrido muito bem, alcançando-se arrozes de tomate que têm aumentado de tamanho à medida que são subscritos pelo pessoal da cozinha. O de hoje já deu para alimentar cinco almas.

Há prato mais português do que peixe frito, arroz de tomate e salada? Será por isso que é tão difícil encontrá-lo?

Com o calor que está a felicidade restante depende dos caprichos das brisas e das moscas. Havendo brisa as moscas enfrentam-se, até porque as moscas detestam brisas, que consideram concorrência.

Quando não há, as moscas naturalmente abusam e ficam inaturáveis. Mesmo assim, mesmo sem qualquer empatia, ocorre-me que se elogiam os touros pelas mesmas qualidades que odiamos nas moscas.

Hoje, por exemplo, conheci uma mosca extremamente valente, cheia de brio, com uma persistência fanática. Por muito que procurássemos assustá-la, tentando matá-la, ela permanecia indiferente. Era como o Cristiano Ronaldo. A nossa revolta só lhe fortalecia a pertinácia infiltrativa.

Custa-me acreditar que no fundo não há nada que possamos fazer para impedir uma mosca de fazer gato-sapato da nossa pele. O almoço pode ser perfeito mas a brisa falha para nos tirar o apetite e as moscas fazem questão de nos mostrar que, seja qual for o almoço e a pessoa, para eles é tudo a mesma merda.

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