Especulação, incoerência, moralidade

O leitor pode retirar do dicionário outras explicações, mas não andarão muito longe destas. Aqui fica uma espécie de dicionário de bolso que serve para qualquer político — da esquerda caviar à direita carapau.

Não há como o dicionário para nos esclarecer: clarifica conceitos, apresenta múltiplos sentidos e convoca-nos para diferentes leituras.

As definições que se seguem de “especulação”, “incoerência” e “moralidade” são uma escolha que serve um propósito contextualizado: a polémica em torno dos investimentos imobiliários em Lisboa de Ricardo Robles, vereador eleito pelo Bloco de Esquerda e arauto da defesa dos despejados da capital.

O leitor pode retirar do dicionário outras explicações, mas não andarão muito longe destas.

Aqui fica uma espécie de dicionário de bolso que serve para qualquer político — da esquerda caviar à direita carapau.

“Especulação” pode traduzir-se por “operação financeira ou comercial que se aproveita das flutuações do mercado para obter lucros exagerados, por vezes, pouco legítimos”. Em sentido figurado, “logro”, “exploração”. Na forma verbal intransitiva, “especular” é o mesmo que “procurar vantagens próprias”. Alguma dúvida?

O substantivo “incoerência” significa “falta de coerência, de unidade ou de sequência lógica entre factos, ideias ou comportamentos”. Bastante claro.

“Moralidade” tem origem latina e quer dizer “qualidade do que tem moral, do que é conforme à moral vigente”. O dicionário dá um exemplo: “A moralidade de um acto.” E acrescenta outra definição: “Atitude ou conduta moral de um indivíduo ou de um grupo.” Exemplo: “Pessoa de moralidade duvidosa.” Ficamos esclarecidos.

A mistura destes três ingredientes (em doses variáveis) levou à demissão de Robles, que se viu “limitado na intervenção como vereador”. Demorou a perceber, dando tempo aos bloquistas mais mediáticos de revelarem a sua própria “incoerência” e frouxa “moralidade”. (A amizade é bonita mas não pode ser míope.)

Catarina Martins manifestou-se contra os jornalistas, pois o BE sempre beneficiou de “boa imprensa” e até de tempo de antena excessivo face à totalidade do seu eleitorado. Injusto e desproporcionado comparando com o PCP.

Talvez as “carinhas larocas” sempre tenham algum efeito. Na campanha das autárquicas, escutámos muitas eleitoras lisboetas a suspirar ante “os olhos de mar” (a frase não é nossa) do candidato Ricardo Robles. E eleitores também. (Ai, ai, ai que nos íamos esquecendo das questões de género.)

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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