Marcelo, o “incansável promotor” das relações ibéricas, recebe prémio na Galiza

O Presidente da República é o primeiro chefe de Estado estrangeiro a ser distinguido com o o prémio Fernández Latorre, fundador do jornal La Voz de Galicia.

Foto
Marcelo visitou Espanha em Março de 2016 e Abril deste ano LUSA/J.J.GUILLEN

Marcelo Rebelo de Sousa foi galardoado com o prémio Fernández Latorre, atribuído em memória do fundador do jornal La Voz de Galicia, pela promoção das relações bilaterais entre Espanha e Portugal. É a primeira vez que um chefe de Estado estrangeiro recebe este prémio, que tem distinguido sobretudo pessoas e instituições chave no desenvolvimento daquela região espanhola.

Segundo o jornal galego, a distinção de Marcelo Rebelo de Sousa, na 60.ª edição deste prémio, "foi concedida em reconhecimento do seu contributo para a promoção das relações bilaterais entre a Espanha e Portugal" e decidida por unanimidade pelo Conselho de Curadores do galardão, que tem um valor de 10 mil euros.

Na sua decisão, o júri considerou que personalidades como o chefe de Estado português fizeram com que as relações transfronteiriças entre Espanha e Portugal sejam agora "um modelo de coesão" para a União Europeia. Marcelo Rebelo de Sousa é descrito como "um incansável promotor" das relações bilaterais ibéricas, desde os seus tempos de comentador televisivo.

Espanha esteve no radar presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa desde o momento zero do seu mandato. Felipe VI foi um dos três convidados para a tomada de posse e o país vizinho foi destino da sua primeira viagem ao estrangeiro, logo a seguir ao Vaticano. Os contactos entre o Presidente português e os reis de Espanha foram, a partir daí, frequentes – entre visitas oficiais e outras - e sempre muito calorosos.

As boas relações entre os dois chefes de Estado têm, aliás, ajudado a aplainar atritos diplomáticos. Almaraz foi um exemplo de como a intervenção de ambos ao mais alto nível foi decisiva para um desfecho pacífico de um conflito que podia ter tomado outras proporções.

Em Dezembro de 2016, o ministro do Ambiente português anunciou que iria apresentar uma queixa formal contra Espanha à Comissão Europeia, depois de Madrid ter dado luz verde à construção de armazéns de resíduos nucleares na central de Almaraz, a 100 quilómetros da fronteira, sem falar com Lisboa. Em Janeiro de 2017, o parlamento luso aprovou por unanimidade um voto de condenação da decisão espanhola, proposto pelo PEV.

Mas por essa altura, o Presidente da República recebeu de Felipe VI – que viera a Portugal participar nas cerimónias fúnebres de Mário Soares - a garantia de que não seriam tomadas decisões unilaterais sobre Almaraz. Seguiu-se um processo negocial entre os dois países e, em Abril, a Agência Portuguesa do Ambiente deu luz verde à construção do armazém da central nuclear, considerando o projecto “seguro e adequado”.

Marcelo regressou a Espanha em Abril de 2018, em plena crise da Catalunha, para uma visita oficial que ficou marcada pelo discurso sobre gelo fino que proferiu nas Cortes Gerais: “Lutar pela democracia é um imperativo de todos os dias. Tal como é um erro acreditar que basta a sua proclamação nas constituições e nas leis ou entender que, uma vez consagrada, é um dado adquirido para sempre”. Apelando à imaginação para superar as crises e enaltecendo a coesão entre os dois países, acabou aplaudido de pé por todas as bancadas. E saiu de cena ao som da Grândola, cantada pelos deputados catalães.

Em entrevista ao jornal La Voz de Galicia a propósito da distinção concedida, o Presidente português diz ver esta decisão “como um sinal mais da profunda amizade que une Espanha e Portugal” e que “serve para recordar a centralidade dos valores como a liberdade de opinião e de imprensa, pilares essenciais para a vitalidade e o futuro das nossas sociedades democráticas”.

A distinção do jornal La Voz de Galicia acontece meses antes da primeira visita oficial do Presidente português àquela região espanhola, no último trimestre, ocasião em que deverá receber o galardão agora concedido.

Sugerir correcção
Comentar