Testemunha crucial da Operação Fizz é ouvida hoje em tribunal

Banqueiro angolano Carlos Silva sempre negou ter contratado ex-procurador Orlando Figueira, suspeito de ter sido corrompido por antigo vice-presidente de Angola.

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Carlos Silva (à esquerda) assegura que não convidou Orlando Figueira para trabalhar para ele Lusa

O banqueiro angolano Carlos José da Silva, testemunha crucial do processo Operação Fizz, começa a ser ouvido nesta segunda-feira em tribunal. O seu depoimento poderá revelar-se fundamental para apurar se o ex-procurador Orlando Figueira foi, de facto, corrompido pelo ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente, como diz a acusação do Ministério Público.

Segundo esta tese, o magistrado do Departamento Central de Investigação e Acção Penal Orlando Figueira recebeu 763 mil euros de Manuel Vicente para arquivar um processo em que este estava a ser investigado. Parte desse dinheiro foi pago pela Primagest, empresa de consultoria angolana para a qual era suposto ir trabalhar quando deixou o Ministério Público, em 2012. Outra parte, segundo o Ministério Público, veio de um empréstimo que pediu ao Banco Privado Atlântico, presidido por Carlos Silva. O banqueiro é vice-presidente do BCP, banco que contratou o procurador para o seu departamento de compliance quando este deixou a magistratura.

A Primagest nada mais era do que uma sociedade-veículo usada por Manuel Vicente e que tinha como accionista o general angolano Leopoldino Nascimento, assegura a acusação.

Mas tanto Orlando Figueira como outro arguido do caso, o advogado Paulo Blanco, asseguram que os pagamentos em causa não eram luvas e que foi Carlos Silva quem contratou o ex-procurador para a Primagest.

O antigo procurador até dá detalhes: diz que a primeira vez que Carlos Silva o convidou para trabalhar para ele foi durante uma viagem de trabalho que fez a Angola, quando ainda estava no Ministério Público. Ter-lhe-á aparecido no hotel onde estava instalado, em Luanda, vestido de forma informal, “de calções e sapatos de vela”. E falou destes encontros ao juiz Carlos Alexandre, seu amigo. 

Só que Carlos Silva de forma nenhuma corrobora esta versão dos factos. Num comunicado que fez a 29 de Janeiro passado, como reacção ao que disseram os dois arguidos no início do julgamento, garantiu nunca ter feito nenhum convite a Orlando Figueira. “O grau de fantasia dessa estória vai ao ponto de inventar um suposto encontro num hotel do centro de Luanda no qual me descreve como envergando uma indumentária que quem me conhece sabe que jamais utilizaria num local deste tipo”, declarou o banqueiro.

A audição de Carlos Silva em tribunal poderá prolongar-se até quinta-feira.

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