Aos 25 anos, o Alkantara fecha mais um ciclo e muda de mãos

Thomas Walgrave deixa o festival no final desta edição, que de 23 de Maio a 9 de Junho traz a Lisboa Bouchra Ouizguen, Toshiki Okada, Kornél Mundruczó ou Bruno Beltrão.

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Bruno Beltrão e o seu Grupo de Rua estão de regresso com Inoah Kerstin Behrendt

Não é ainda altura de falar do futuro do Alkantara Festival, a não ser do já muito próximo, aquele que de 23 de Maio a 9 de Junho trará a Lisboa, de novo, figuras tão aclamadas dos palcos deste mundo como a marroquina Bouchra Ouizguen, o japonês Toshiki Okada, o húngaro Kornél Mundruczó ou o brasileiro Bruno Beltrão. Logo a seguir, quando se encerrar esta edição com que o festival chega aos seus 25 anos, dez dos quais nas mãos do programador belga Thomas Walgrave, abre-se um novo ciclo – mas dele, diz-nos, falarão a seu tempo, “com muita eloquência”, os próximos directores artísticos, Carla Nobre Sousa e David Cabecinha.

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Não é ainda altura de falar do futuro do Alkantara Festival, a não ser do já muito próximo, aquele que de 23 de Maio a 9 de Junho trará a Lisboa, de novo, figuras tão aclamadas dos palcos deste mundo como a marroquina Bouchra Ouizguen, o japonês Toshiki Okada, o húngaro Kornél Mundruczó ou o brasileiro Bruno Beltrão. Logo a seguir, quando se encerrar esta edição com que o festival chega aos seus 25 anos, dez dos quais nas mãos do programador belga Thomas Walgrave, abre-se um novo ciclo – mas dele, diz-nos, falarão a seu tempo, “com muita eloquência”, os próximos directores artísticos, Carla Nobre Sousa e David Cabecinha.

Nesta sua última edição do Alkantara, Thomas Walgrave quis encerrar, como que “para balanço”, capítulos a que os seus sucessores têm o direito de não dar sequência, e com isso sublinhar, porque é de facto uma despedida, certas afinidades artísticas que foi construindo dentro e fora de Portugal, dentro e fora do festival. “Mais do que programar espectáculos pontuais, sempre tentei – embora não seja fácil num evento bienal – seguir percursos: parece-me mais interessante, tanto para o público como para os artistas”, explica ao PÚBLICO, antes de apontar alguns dos casos que nestes últimos dez anos tiveram no Alkantara uma casa e que a ela regressam em 2018. Logo à cabeça, nomeia Antoine Defoort, de que já tinha trazido a Lisboa &&&&& & &&&, Cheval e Germinal, e que agora regressa com um inesperado encontro entre o Jacques Demy de Os Guarda-Chuvas de Cherburgo e Kendrick Lamar, Un Faible Degré d’Originalité (Teatro Nacional D. Maria, 6 e 7 de Junho): “Programei-o desde a minha primeira edição, em 2010, e queria mesmo que estivesse na última.”

Antes, logo a abrir o festival, Corbeaux (Castelo de São Jorge, 23 a 25 de Maio) trará mais uma vez ao Alkantara a coreógrafa Bouchra Ouizguen, que em 2012 ali se estreou em Portugal com Madame Plaza: “Será uma abertura nada convencional, o mais longe de uma gala que nos poderíamos afastar”, antecipa o director. De um programa extenso, e que mesmo assim “não é uma lista exaustiva” das tais afinidades artísticas, destaca ainda as reaparições de duas apostas do seu primeiro festival, o encenador e cineasta húngaro Kornél Mundruczó, com Imitation of Life (D. Maria, 1 e 2 de Junho, e o Grupo de Rua do coreógrafo brasileiro Bruno Beltrão (“um dos três ou quatro maiores do mundo da dança, e por isso muito difícil de apanhar”), com Inoah (Culturgest, 4 e 5 de Junho). Mas também há descobertas mais recentes, como o também marroquino Radouan Mriziga, que depois do solo 55, apresentado em 2016, volta com uma peça de grupo, 7 (São Luiz, 25 e 26 de Maio).

Entre os portugueses, Thomas Walgrave convidou três coreógrafos que em 1993 estiveram na primeira edição da plataforma Danças na Cidade, a encarnação anterior do Alkantara, a mostrar novos espectáculos – e assim chegam a esta edição do festival Gráfico do Gesto, de Aldara Bizarro (São Luiz, 26 e 27 de Maio), As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros, de Vera Mantero (Culturgest, 29 a 31 de Maio) e From afar it was an island, de João Fiadeiro (D. Maria II, 6 a 8 de Junho). “São figuras essenciais para se entender a linguagem da dança portuguesa: as questões que esta geração colocou reverberam até hoje”, justifica, lembrando que desenvolvimentos posteriores dessa linhagem, como Sofia Dias & Vítor Roriz (O que não acontece, D. Maria II, 31 de Maio a 2 de Junho), ou, ainda mais directamente, Cláudia Dias, também têm lugar neste Alkantara – desta, o festival recebe a estreia de Quarta-Feira: O Tempo das Cerejas (Maria Matos, 7 a 9 de Junho), terceiro capítulo do ciclo Sete Peças, Sete Dias, de que é coprodutor.

Mas vêm de fora os espectáculos que atiram de forma mais enfática esta edição do Alkantara para o gesto da comemoração: o regresso de Toshiki Okada, 15 anos depois, a Five Days in March, a peça em que reflectia sobre o impacto da invasão norte-americana do Iraque e “com a qual rebentou na cena internacional” (Maria Matos, 29 e 30 de Maio), e Transobjeto (São Luiz, 2 e 3 de Junho), mergulho de Wagner Schwartz no legado do movimento tropicalista (e, ao mesmo tempo, releitura de um seu espectáculo de 2004).

“Ironia bonita”, esta edição do Alkantara terminará, “por coincidência”, no lugar onde começa a nova vida de Thomas Walgrave: Ítaca – Nossa Odisseia I (São Luiz, 7 a 9 de Junho), da brasileira Christiane Jatahy, que é desde o ano passado a sua companheira (já é dele a cenografia e o desenho de luz deste espectáculo). A partir de agora, casa será algures entre a Europa e o Rio de Janeiro, mas nunca demasiado longe de Lisboa: “Saio porque tenho o desejo pessoal de voltar à criação e poder dedicar-me a ela a 100%. Quero estar no palco a criar, mais do que fechado numa sala a escrever o discurso de abertura de um festival. Mas não há nenhuma desilusão com o momento actual da cultura em Lisboa, bem pelo contrário: acho que vou ficar sempre ligado a isto.”