O bombardeamento da Síria neste estranho mundo

Trump parece apostado em levar as relações com a Rússia a um grau de conflito extremo só para “mostrar” que não é amigo de Putin.

Não deixa de ser estranho que o homem envolvido em escândalos que, segundo a investigação tornada pública vão desde casos com prostitutas em Moscovo, com uma atriz de filmes pornográficos, com colaboradores do seu círculo mais íntimo, entretanto “fired”, possa ter o apoio do Reino Unido, da França e a compreensão da UE, incluindo do governo português, para bombardear a Síria contra o direito internacional.

Este homem parece apostado em levar as relações com a Rússia a um grau de conflito extremo só para “mostrar” que não é amigo de Putin.

Esta tríade deve desprezar-se, por motivos óbvios, desde logo porque ele, Trump, não deve ter capacidade para manter uma conversa sobre o mundo que vá para além de um tuíte com mais ou menos palavras.

A necessidade de aparecer a mostrar a sua capacidade militar para continuar a vender armamento fá-los darem as mãos.

A este homem o que lhe importa é ele, os seus, e os amigos, se possível com dinheiro, como os multibilionários do Golfo, que atemorizados pelo ar do tempo lhe compram armas para impedir que aconteça qualquer surpresa nas suas vidas e para que, em Riad, as cabeças possam continuar a rolar todas as sextas e o wabahismo, puro e duro, seja a religião da casa real saudita e, se possível, nos países vizinhos.

Na verdade, os bombardeamentos levados a cabo pelos EUA, Reino Unido e França contra a Síria, com o pretexto do regime de Bashar al-Assad ter utilizado armas químicas contra os jiadistas apoiados pela Arábia Saudita e outros países do Golfo, puseram em relevo o quanto a tríade está disponível para apoiar o reino saudita na sua estratégia para dominar a região.

EUA, Reino Unido e França precisam de vender armas à Arábia Saudita e esta precisa das armas daqueles fornecedores. Os governantes sauditas têm bem perto da sua fronteira noroeste um regime laico, republicano dirigido por uma minoria muçulmana que desprezam.

Além disso, a aproximação dos sírios ao Irão é para a monarquia do Golfo um temor, pois internamente mantêm silenciadas a ferro e fogo e golpes de sabre a minoria chiita. É esse o objetivo da guerra que a Arábia Saudita leva a cabo no martirizado Iemen, onde o número de mortos, sobretudo civis não para de crescer.

É preciso ter presente que George W. Bush, Blair, Aznar, Barroso e Portas orquestraram um dos maiores embustes até hoje ocorrido para justificarem a guerra contra o Iraque. Talvez, em termos internacionais, a maior mentira. As desgraças não param de ocorrer como réplicas à criminosa guerra contra um povo indefeso.

No presente quem fala a verdade? Alguém pode acreditar em Trump? E qual a razão para acreditar em Theresa May havendo um laboratório suíço que revela que o tal gás utilizado contra o espião e a filha era um agente químico denominado BZ…em quem acreditar?

Ele, May e Macron juntaram-se para retaliar contraq um país antes que se apurasse o que quer que fosse relativamente à utilização de armas químicas, num cenário de derrota inevitável dos jiadistas em Douma. Os peritos da OPAQ chegaram ao terreno no dia 17 do corrente mês depois dos bombardeamentos.

Ajudados no plano da guerra comunicacional por um conjunto de órgãos de informação sempre dispostos a dizerem sim aos “donos disto tudo” propagaram de imediato, através da exploração de fotos e vídeos de crianças filmadas não se sabe por quem, a ideia de que os malvados dirigentes sírios e os malignos russos mataram com gás cloro ou sarin inocentes criancinhas, meninos e meninas, como relatou o mais destemperado Presidente dos EUA, o homem que não escreve mais de dois ou três parágrafos seguidos.

Neste quadro, é lamentável que o governo português tenha declarado compreender os bombardeamentos que visaram não só a Síria, mas a própria ONU e o direito internacional.

Há muito que as principais potências ocidentais se querem ver livre do “espartilho” que é o direito internacional. Correm contra o tempo. Bem sabem que a multipolaridade do mundo vai limitar o seu espaço de intervenção militar. Por isso vendem armas a rodos para os seus amigos ricos.

O homem que declara contra a comunidade internacional que Jerusalém é a capital de Israel, é o mesmo que, de braço dado com a despistada T. May e o ex-socialista, amigo dos franceses mais ricos, bombardeia a Síria. É a esta tríade que Portugal e a UE manifestam compreensão, apesar de António Guterres ser o secretário-geral da ONU.

 Que se pode esperar de um mundo assim?      

      

 

 

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