As provas da universidade que mudou o vinho português

Projecto “Alumni” reúne alguns dos mais consagrados enólogos portugueses. Todos têm um passado em comum: foram alunos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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Que trunfos tem uma universidade para mostrar as suas competências e fazer prova das mudanças que operou no país das últimas décadas? No caso da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o reitor Fontainhas Fernandes tem a resposta na ponta da língua: os seus alunos, em particular os que estudaram enologia. Sem as várias gerações de jovens licenciados que saíram de Vila Real para as empresas e para as diferentes regiões do país, o mundo do vinho português seria certamente diferente e seguramente mais pobre. O projecto Alumni, que por estes dias entrou na sua segunda edição, pretende ser um manifesto dessa transformação, com alguns dos seus ex-alunos e hoje enólogos consagrados a criarem vinhos para celebrarem a relação íntima entre a UTAD e a moderna geração dos vinhos de Portugal.

A ideia surge como alavanca de uma estratégia fácil de compreender. Durante as últimas décadas, a UTAD perdeu parte do seu foco original, pretendeu transformar-se numa espécie de escola apostada em todas as áreas e esqueceu as ciências onde a sua excelência tinha ficado comprovada. Com a nova equipa reitoral, e com o Conselho Geral liderado por Silva Peneda, fez-se um realinhamento das prioridades. A UTAD tinha de voltar a afirmar-se fundamentalmente nas disciplinas onde se situa entre as melhores escolas. “Faz todo o sentido desenvolver uma estratégia baseada na enologia”, uma ciência na qual “a opinião pública reconhece que a UTAD fez um trabalho notável, ao nível da excelência”, explica Silva Peneda.

Quando, nos finais dos anos de 1980, começaram a sair os primeiros enólogos (e também viticultores) das salas de aula da UTAD, o vinho em Portugal mudou. Há quem fale de uma revolução. Certo é que há um antes e um depois de 1990. O Douro nasce para os vinhos tranquilos, o Alentejo apresenta-se como região emergente, os Verdes afinam o seu perfil e o Dão ou a Bairrada começam a entrar na modernidade. Em todos estes lugares há o saber dos ex-alunos da UTAD. Alguns tornaram-se famosos pelos seus vinhos. Outros estão ainda numa fase de ascensão. O projecto “Alumni” usa o seu exemplo para reforçar a imagem de competência da universidade que os formou.

Na primeira edição do Alumni, a reitoria convidou os ex-alunos Jorge Moreira, Jorge Serôdio Borges e a dupla Xito Olazabal e Francisco Ferreira. O primeiro fez um branco, Borges um tinto e os enólogos da Quinta do Vallado (Xito é também o rosto do Vale Meão) um Porto. Os vinhos vendem-se a pedido e foram adoptados pela Presidência da República e por outras instituições do Estado. Cada um à sua maneira, são vinhos excelentes e capazes de expressar as carreiras dos seus autores. Os lucros da venda são para o apoio social dos actuais alunos da UTAD.

Na segunda edição, as nomeações saíram da reitoria e passaram para o domínio dos enólogos. Jorge Moreira escolheu como sucessor Paulo Ruão (Lavradores de Feitoria), que apresentou um magnífico branco feito em exclusivo de Viosinho. Jorge Serôdio Borges apontou Luís Duarte, um dos mentores do novo Alentejo, que revelou um tinto de 2015 do Monte do Carrapatelo harmonioso e cheio de classe. E a dupla de primos Xito/Francisco delegou a sua responsabilidade a Manuel Lobo de Vasconcellos, que criou para a chancela Alumni um LBV tradicional (não filtrado) de 2013 que impressiona pela sua frescura.

A terceira edição do projecto Alumni já está entretanto em curso. Luís Cerdeira (Soalheiro) vai assumir o papel de Paulo Ruão, Luís Cabral de Almeida (Herdade do Peso) sucede a Luís Duarte e João Brito e Cunha fica encarregado da criação de um vinho do Porto.

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