Um planeta aquático a 350 anos-luz de distância de nós

Equipa de cientistas que inclui portugueses determinou a massa de um planeta fora do nosso sistema solar que pode ter 50% de água.

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Ilustração de um planeta a passar à frente da sua estrela ESA/ATG medialab

Uma equipa internacional liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) determinou a massa de dois planetas fora do nosso sistema solar e a 350 anos-luz de distância de nós, concluindo que um deles contém entre 9% a 50% de água, tratando-se de um mundo aquático.

Segundo uma nota informativa do IA, a equipa, que envolve investigadores de 11 países, determinou a massa de dois planetas que giram à volta da estrela HD 106315, concluindo que o menor (HD 106315 b) tem uma massa 12,6 vezes maior que a da Terra, enquanto o maior (HD 106315 c) tem uma massa 15,2 vezes maior.

Os valores obtidos demonstram que “o planeta b” tem um espesso envelope de hidrogénio-hélio, mas uma investigação detalhada, recorrendo a modelos de interiores planetários, indicam até 50% de material rochoso, e entre 9 e 50% de água. Ou seja, este é um mundo aquático, refere o comunicado.

Estas conclusões foram conseguidas através de dados provenientes de um programa de observação com o espectrógrafo (instrumento que decompõe a luz nas suas várias cores) HARPS, do Observatório Europeu do Sul (ESO), organização intergovernamental de astronomia a que Portugal pertence.

A equipa verificou igualmente que o planeta HD 106315 b demora 9,5 dias a completar uma volta à sua estrela e tem um diâmetro 2,44 vezes maior que o da Terra, enquanto o HD 106315 c completa uma órbita à estrela em 21 dias e tem um diâmetro 4,35 vezes maior.

Estes dois planetas já tinham sido detectados anteriormente pelo telescópio Kepler, da NASA, através do método de trânsito, que consiste na medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem de um exoplaneta à sua frente (algo semelhante a um micro-eclipse).

“Através de um trânsito é possível determinar apenas o raio do planeta”, lê-se no comunicado. Para verificar algumas características do planeta (se é gasoso ou rochoso, ou se tem atmosfera), os investigadores precisam de saber a sua massa, informação obtida a partir do método das velocidades radiais. Esse método, continua a nota informativa, permite detectar exoplanetas medindo pequenas variações na velocidade (radial) da estrela, originadas pelo movimento que a órbita desses planetas imprime na estrela.

Os dois métodos em conjunto permitem determinar a massa real dos planetas, o que foi conseguido neste estudo, dando origem a um artigo científico publicado na revista Astronomy & Astrophysics.

De acordo com a investigadora do IA Susana Barros, que colabora com a Universidade do Porto e é a primeira autora do artigo, o sistema planetário descrito neste estudo demonstra a diversidade da composição destes planetas. “Como a estrela que estes [planetas] transitam é bastante brilhante, será ainda possível estudar as suas atmosferas. Com a instrumentação actual é possível observar a atmosfera do planeta c, mas para o planeta b será necessário esperar por instrumentos como o telescópio espacial James Webb”, explicou a cientista.

Estudar atmosferas com telescópios como o James Webb (da NASA), cujo lançamento previsto para 2019 está a ser empurrado para 2020 devido a vários problemas técnicos, ou o Extremely Large Telescope (ELT), do ESO, irá permitir uma melhor compreensão acerca da composição do HD 106315 b, já que o planeta está no limite entre os planetas rochosos e os planetas gasosos, acrescenta o comunicado.

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