Com Gabriela Cerqueira “não havia impossíveis”

A produtora gestora e programadora cultural Gabriela Cerqueira morreu terça-feira aos 75 anos. A realizadora Teresa Villaverde recorda a sua produtora, companheira de trabalho e amiga.

A primeira vez que trabalhei com a Gabriela Cerqueira, a nossa Gabi, foi talvez em 1993. Eu já era amiga dos dois filhos mais velhos, o Luca e o Marcello, mas não foi através deles que cheguei a ela. Nos últimos, muitos, anos a nossa relação foi tão para o lado da amizade que já quase não me lembrava de como era extraordinário trabalhar com a Gabi. E não havia impossíveis, não havia pessoa a quem não se conseguisse chegar, fosse em que área fosse.

Era preciso uma casa num alto de uma montanha, e perguntava-se à Gabi, “Gabi, quem tem uma casa no alto de uma montanha? Como filmo lá?” E a resposta era sempre, “espera aí, já te digo”. E vinha sempre o nome de alguém. “Gabi, como se chega a este compositor que vive do outro lado do mar?” “Espera aí que já te resolvo isso”. Era sempre assim.

Mesmo quando a Gabi já tinha trocado o cinema pela produção e programação de espectáculos de dança, de teatro, de música, não me lembro de ter feito algum filme em que ela não me tenha ajudado em alguma coisa. A Gabi era assim, sempre com tempo para os seus amigos.

Fez mil coisas, dirigiu equipes gigantes, equipes pequenas, sempre com a mesma responsabilidade, a mesma paixão pelas coisas, pelas pessoas. Sabia tudo sobre os artistas novos que iam aparecendo, sobre os mais antigos, e estava sempre pronta a ajudar, e a dar força com a sua alegria, em troca de nada. No trabalho, na vida, em tudo, era a imagem da alegria de viver. A minha filha diz-me sempre, se acorda assim-assim: vou dar uma volta à rua como faz a Gabi.

Não sei se haverá muita gente no mundo com mais amigos do que a Gabi, amigos bons, amigos a sério, e ela era amiga a sério de todos. 

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