“Fomos tratados principescamente em Angola. As relações eram óptimas”

Pinto Monteiro lembra quando foi convidado para ir a Luanda. Levou Van Dunem e Cândida Almeida. “Tem que haver fortes razões para Manuel Vicente não ser” julgado em Angola, diz.

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Miguel Manso

“As nossas relações eram óptimas. A partir daí desconheço”, diz Pinto Monteiro sobre a Operação Fizz.

Falámos sobre Angola e está em curso o julgamento decorrente da Operação Fizz, um caso em que está a ser julgado um ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente. Era inevitável toda esta tensão com o governo angolano? Faz sentido o pedido de Angola para que o caso seja julgado lá?
O que posso dizer é que fui a Angola a convite do procurador-geral. Que me fez saber que gostava que levasse uma comitiva maior. Levei as pessoas nascidas lá, a Dra. Francisca Van Dunem [agora ministra da Justiça], a Dra. Cândida Almeida, uma funcionária superior que também nasceu lá, éramos cinco pessoas. E fomos tratados principescamente. Celebrámos um acordo, que está lá e que devia servir de exemplo para o mundo português, um acordo que foi transmitido até pela televisão. O Presidente da República de Angola, que eu nunca tinha visto, fez questão de me receber, com a assistência da Dra. Francisca Van Dunem e da Dra. Cândida Almeida, que não podiam falar, tratou-nos principescamente naqueles dias. As nossas relações eram óptimas. A partir daí desconheço. O que se passa desconheço completamente.

Há uma convenção da CPLP que é suposto regular os casos judiciais entre os dois países e que está a ser ignorada pelo Ministério Público português. É um procedimento normal, digamos assim?
Eu não falo do que se passa hoje, que não sei. Do meu tempo, não tivemos casos desses.

Falou-nos de um acordo que celebrou lá.
Já existia um acordo, nós celebrámos um acordo também. Sei que a certa altura foi um problema que tivemos, foi uma história também que metia um membro qualquer do Governo de Angola. Mas depois desistiram da queixa, uma coisa muito vaga. Do resto não faço ideia. O Ministério Público, isso agora é com eles. É claro que, se cometeram um crime... Se a lei permite que ele seja julgado em Angola, tem que haver fortes razões para não ser — mas eu não estou a par do processo.

Há dois juízes do Tribunal da Relação de Lisboa, Rui Rangel e a mulher, Fátima Galante, que estão a ser investigado por factos praticados no exercício de funções. Como é que a opinião pública vê a Justiça, hoje em dia, conhecendo estes casos?
Repito: para mim são inocentes até prova em contrário. Não tenho grande conhecimento com o Dr. Rangel. Nunca trabalhámos juntos, nunca almoçámos juntos, penso que falámos meia dúzia de vezes. Houve uma revista que publicou os "amigos de Rangel", um era eu. Eu, que falei seis vezes com ele. Se o Rangel, coitado, só tiver amigos como eu está mal, porque nunca, nunca almoçámos, jantámos. Para mim é inocente, se for culpado lamento imensamente. Agora, em todas as classes pode acontecer. Dizia o meu avô: se um padre se portar mal numa freguesia, todos os outros padres são abrangidos. É possível. Mas os juízes são humanos, os padres também. Salva a comparação, tudo pode pecar.

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