A “nova fase” tem um bocadinho de bom senso

O atrevimento do novo líder do PSD deve ser elogiado — e sem reservas.

Há uns cinco anos que não víamos isto: um líder da oposição ir a São Bento para um encontro a sós. Um encontro que demora duas horas e meia. E que acaba com palavras de absoluto equilíbrio e bom senso.

“Sim, posso dizer que é uma nova fase”, disse Rui Rio aos jornalistas, como quem assume que não há outra maneira de estar numa democracia que não seja em diálogo.

O atrevimento do novo líder do PSD deve, pois, ser elogiado — e sem reservas. Não só por assumir o primeiro passo, como por aceitar dar prioridade aos dois temas que António Costa tinha na agenda. Se a descentralização é um tema prioritário para os dois, é natural que assim se faça; se os fundos comunitários carecem de decisão urgente em Bruxelas, é claro que devem estar em primeiro lugar da lista. A verdade é que já estávamos desabituados destas conversas. Mas a verdade também é que há matérias em que não basta uma maioria para que o país colha os frutos de uma reforma.

O novo líder do PSD, porém, vai precisar de boa vontade do outro lado — porque, convém frisar, para haver uma discussão formal como a que agora se iniciou — com grupos de trabalho formados —, não basta existir disponibilidade de um lado. E se é um facto que Passos Coelho não tinha linha de comunicação com Costa, a verdade é que Costa também nunca procurou uma ligação ao PSD.

Começar uma conversa, como Costa fez esta semana, dizendo ao interlocutor que pode haver um acordo sobre Segurança Social, sim, mas só nos termos em que ele o entende, não é um sinal de que o bom senso esteja dos dois lados.

De todo o modo, é justo dizer que regressámos a uma certa normalidade política. A um clima de discussão que afasta menos e que, por isso, valerá mais a todos. Quem neste novo jogo pensar que no final ganha o melhor estratego estará a ver mal o filme. A caminho da terceira década do século XXI, com os problemas que o país tem, a percepção de um bem comum é de um valor inestimável.

P.S.1 — As guerras internas que se abriram no dia 1 do novo PSD são do mais banal que há num partido. Desde Sá Carneiro e Mário Soares que é assim — e desde aí nunca fizeram mais ou menos de um líder.

P.S.2 — O maior problema de Rui Rio, até agora, foi o de não ter substituído o relógio lá de casa, que ainda é do século passado. É verdade que “depressa e bem, há pouco quem”. Mas Rui Rio já foi eleito há um mês e teve tempo para se preparar nos últimos anos. Vai uma ideia?

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