Criadas orelhas em 3D para crianças com malformações

Ensaios clínicos feitos com sucesso em cinco crianças na China. A equipa de investigadores quer agora passar esta experiência para a prática clínica.

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Imagens das crianças com as novas orelhas EBIOMEDICINE

A microtia é uma malformação das orelhas, que já nasce com a pessoa, e afecta a forma deste órgão, assim como as suas funções. Agora, uma equipa de cientistas chineses conseguiu implantar orelhas em cinco crianças dos seis aos dez anos com microtia, através de uma tecnologia que combina a cultura de células com a impressão a três dimensões. Os ensaios clínicos realizaram-se numa clínica na China, revela um artigo científico na revista EBioMedicine.

Esta malformação congénita acontece num em cada cinco mil nascimentos, segundo o Instituto do Ouvido da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Os hispânicos e os asiáticos são os mais afectados, refere-se no artigo. Actualmente, o tratamento para a microtia pode ser feito através de uma cirurgia reparadora com um implante de uma orelha de plástico, por exemplo. Mas, uma equipa de cientistas chineses pensou em fazer isso através da engenharia de tecidos, como já acontece com os ossos, cartilagens ou a pele.      

Os investigadores usaram condrócitos (células que se encontram no tecido cartilaginoso) de crianças entre os seis e os dez anos com microtia. Com elas, fizeram uma cultura de células durante alguns meses. Depois, quando a estrutura da cartilagem de cada doente ficou pronta, fizeram-se implantes nas crianças com microtia. As novas orelhas tiveram por base modelos a três dimensões de orelhas saudáveis. Para isso, foram usadas técnicas de raios X e de impressão em 3D dos modelos, onde se tinham cultivado as células.

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Ao todo, participaram cinco crianças no estudo EBIOMEDICINE

Depois, essas crianças foram acompanhadas durante alguns meses. Por exemplo, a primeira rapariga de seis anos a quem foi “dada” uma destas orelhas foi seguida durante dois anos e meio. “O enxerto da orelha desenvolvida para cada um dos cinco pacientes mostrou uma excelente formação da cartilagem in vitro com a estrutura das orelhas pormenorizada, o que indica que os processos para o enxerto da orelha desenvolvidos foram viáveis e são repetíveis”, lê-se no artigo científico. “Somos capazes de conceber, fabricar e regenerar as orelhas de um doente”, salientam ainda.

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Usou-se uma tecnologia que combina a cultura de células com a impressão a três dimensões Imagens das crianças com as novas orelhas

Esta ideia já tem algum tempo, como aponta Tessa Hadlock, do Hospital dos Olhos e Ouvidos do Massachusetts (Estados Unidos), ao site norte-americano da CNN. Em 1997, Yilin Cao, do Centro Nacional de Engenharia de Tecidos da China e coordenador deste trabalho, já assinava um artigo científico que mostrava que os investigadores tinham feito crescer cartilagens da orelha humana através da engenharia de tecidos, que depois foram implantadas em ratinhos. “O que é novo aqui é que, pela primeira vez, fizeram-no em cinco doentes. Conseguiram segui-los durante muito tempo, o que mostra o resultado das orelhas que cresceram de cartilagem extraída”, diz Tessa Hadlock à CNN. Agora, os cientistas chineses querem passar estas orelhas para a prática clínica.

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