Violência, ameaças e segurança reforçada marcam estreia de polémico filme de Bollywood

Os primeiros protestos foram motivados por o filme conter uma cena íntima entre uma rainha hindu e um conquistador muçulmano — que o realizador nega existir. Em protesto, a violência espalhou-se pela Índia e há mulheres que dizem que se queimarão vivas, se o filme não for banido.

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A protagonista a ser escoltada, dois dias antes da estreia do filme Reuters/DANISH SIDDIQUI
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O filme indiano Padmaavat, envolto em polémica e violência há mais de um ano, chegou esta quinta-feira aos cinemas com segurança reforçada. O filme conta a história de uma rainha hindu do século XIV e os rumores de que haveria uma cena íntima entre ela e um conquistador muçulmano (e o facto de a actriz mostrar a barriga numa das cenas) levaram centenas de manifestantes conservadores para as ruas, vandalizando cinemas e autocarros e ameaçando até decapitar os protagonistas do filme. O realizador Sanjay Leela Bhansali negou por várias vezes a existência de uma cena íntima entre as duas personagens, mas isso não foi suficiente para atenuar a revolta.

As manifestações fizeram com que alguns proprietários de cinema indianos receassem a violência e a destruição nas suas salas e desistissem de exibir o filme (alguns continuam sem o querer fazer). Quatro estados indianos chegaram a banir o filme, mas essa decisão foi revogada pelo Tribunal Supremo indiano na semana passada, invocando que a liberdade de expressão não deveria ser posta em causa por causa das ameaças de violência. “Se existe liberdade para os escritores, liberdade de expressão, nós também temos liberdade de nos manifestar”, reagiu Lokendra Singh Kalvi, responsável da comunidade Rajput Karni Sena (a rainha representada no filme era casada com um rei Rajput).

O filme de 164 minutos, cuja acção decorre no antigo Rajastão, o maior estado da Índia, é protagonizado por Deepika Padukone e Ranveer Singh. Ao contrário do que tem sido reivindicado nas ruas, várias celebridades do cinema Bollywood têm-se mostrado a favor do filme e da sua exibição.

A produção cinematográfica lançada este ano é baseada num poema com mais de cinco séculos que conta que a rainha hindu – que dá nome ao filme e pertence ao império hindu Rajput – preferiu morrer a ser capturada por um líder muçulmano, que ataca o reino motivado pela beleza de Padmaavat. Apesar da adoração actual em torno da rainha, os historiadores dizem não ter provas de que ela tenha existido. Nos relatos existentes, a rainha teria cometido jauhar – uma prática hindu de sacrifício colectivo para evitar a captura e violação das mulheres por invasores depois de os seus homens terem sido derrotados na guerra.

“Ela sacrificou a sua vida por causa de atrocidades contra as mulheres”, disse Giraraj Singh Lotwada, da comunidade Rajput, citado pelo Guardian. “Ela é muito respeitada. Nós rezamos-lhe, tomamo-la como nossa deusa.” Dezenas de mulheres Rajput ameaçaram que se iriam queimar vivas, se a estreia do filme fosse avante nesta quinta-feira. “Não temos medo da morte”, disse o líder Rajput à imprensa indiana.

Alguns manifestantes ameaçaram que queimariam os cinemas em que o filme fosse exibido e ofereceram uma recompensa de 50 milhões de rupias (cerca de 630 mil euros) para quem decapitasse a protagonista Deepika Padukone ou o realizador Bhansali.

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O realizador Sanjay Leela Bhansali e a protagonista Deepika Padukone Youssef Boudlal/REUTERS

Uma polémica que dura há meses

Em Janeiro do ano passado, a rodagem do filme foi interrompida depois de a comunidade conservadora Rajput Karni Sena ter vandalizado os cenários e ter agredido o realizador. Além da vandalização, a comunidade Karni Sena e outros grupos de extrema-direita ameaçaram também cortar o nariz à actriz principal.

Em Bombaim, houve quem incendiasse carros; na cidade de Gurgaon, no estado indiano de Haryana, um autocarro escolar foi atacado na quarta-feira – e 18 homens acabaram por ser detidos. Em imagens registadas em vídeo, vêem-se crianças a chorar, enquanto são atiradas pedras ao autocarro. Na mesma cidade, que fica a cerca de 30 quilómetros da capital Nova Deli, os manifestantes atiraram pedras e incendiaram um outro autocarro. Em várias regiões da Índia, a polícia viu-se obrigada a controlar as centenas de manifestantes que não concordavam com a estreia do filme.

A polémica estalou há cerca de um ano, altura em que alguns grupos hindus e a organização do castelo de Rajput afirmavam que o filme incluía uma cena íntima com a rainha hindu, sonhada pelo conquistador muçulmano, mas o realizador negou que tal seja verdade. As manifestações voltaram a surgir na altura em que foram afixados os cartazes do filme (posteriormente queimados pelos manifestantes) e também quando foi lançado o primeiro trailer do filme, em que Padmaavat surge com a cintura à mostra. Os opositores continuam a exigir que o filme seja banido.

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