Iupii! Estamos na época dos sumos feitos com laranjas acabadinhas de apanhar no Algarve!

Em Portugal há muitas laranjas muito boas. Variam imenso conforme os climas, cada uma com a sua personalidade. As melhores, quanto a mim, são as do Algarve.

Foto
Virgílio Rodrigues

O sumo de laranja é a bebida em que todos somos peritos desde criancinhas. Recentemente investi num espremedor de alavanca igual ao que vi usar na Sicília que tem feito o sumo mais delicioso que já bebi.

A máquina não tem segredo. Limita-se a extrair só o sumo. O resultado é um sabor decadente e delicioso que é 100% sumo. Claro que este sumo é menos saudável porque não tem fibra nenhuma. As máquinas eléctricas extraem mais fibra e até casca, azedando o sumo, mesmo que depois se filtre para tirar a maior parte da fibra.

Para arrumar a questão da saúde é preciso ver que levamos cinco minutos para beber o sumo de cinco laranjas inteiras. Se as comêssemos uma a uma, gomo a gomo, talvez não quiséssemos comer mais de duas, até porque a fibra das laranjas causa saciedade, para além dos benefícios intestinais óbvios.

Espremendo à mão também se conseguem bons resultados porque a extracção é menor ou maior conforme a pressão que fizermos. Para fazer um sumo mais delicioso basta carregar pouco. Claro que é um desperdício mas o que é um desperdiciozinho de vez em quando? Infelizmente, estamos habituados ao sabor fibroso das laranjas excessivamente espremidas pelas máquinas que convertem as laranjas no máximo de líquido possível, dando um sabor mais a casca do que a sumo.

Nada disto tem qualquer interesse se as laranjas não forem boas. Para serem boas não basta serem boas. Têm também de ser recém-apanhadas e não terem recebido tratamentos antifúngicos, banhos de cloro, ceras, colorações, condicionamento com gás, refrigerações ou qualquer outra das venenosas manigâncias com que prolongam artificialmente a “frescura” decididamente entre aspas das laranjas.

Se a laranja for realmente boa, a casca pode servir para cristalizar, fazer doces ou mezinhas.

Em Portugal há muitas laranjas muito boas. Variam imenso conforme os climas, cada uma com a sua personalidade. Tal como acontece com a uva e toda a fruta, pode-se ficar com uma ideia da doçura e acidez conforme as temperaturas. Nem é preciso viajar muito. Aqui perto de mim há encostas soalheiras com laranjas mais docinhas e pomares mais sombrios com laranjas mais ácidas. Todas são deliciosas.

É um grande prazer fazer viagens de automóvel por Portugal fora comprando laranjas pelo caminho. Os preços são sempre muito baixos e a qualidade é sempre excelente. Também as pessoas que cultivam fruta são sempre simpáticas e generosas. Para além do prazer meramente gastronómico há um prazer humano, ecológico e cultural que é inigualável.

Num extremo estão as laranjas tropicais. A casca é esverdeada (porque é o frio que faz a cor alaranjada) e a fruta é extremamente doce, sem acidez ou complexidade de qualquer espécie.

As melhores laranjas, quanto a mim, são as do Algarve, embora acredite que também sejam irresistíveis as do Douro. Graças às investigações de Idálio Revez e de Carlos Filipe aqui no PÚBLICO, atentos aos problemas dos produtores algarvios, fiquei a conhecer o admirável site de José Mendonça que está a funcionar desde 2011: laranjadoalgarve

Por 17 euros ele entrega-lhe em casa (ou no trabalho) 10 quilos das laranjas que ele cultiva com todos os carinhos e nenhuns dos venenos. Esse preço já inclui os transportes que são obviamente caros. Mesmo assim, cada quilo sai a 1,70 euros — o que é pouco por laranjas New Hall da melhor qualidade.

As laranjas ditas de sumo custam menos 1 euro mas são iguaizinhas às outras. São apenas mais pequenas.

Caso se queiram 15 quilos o preço do transporte é menor e os 5 quilos a mais saem apenas a 5 euros: 22 euros pelas maiores, 21 euros pelas mais pequenas.

O próprio José Mendonça explica que “vai com certeza achar a diferença (frescura, sabor e cheiro) ao consumir” aquela “fruta colhida no próprio dia do envio”. “A nossa fruta é sempre colhida no próprio dia do envio e NÃO LEVA com os fungicidas e ceras (tão prejudiciais à saúde) com que é tratada toda a fruta comercializada nos grandes canais de distribuição.”

O esquema é simplicíssimo. As colheitas são feitas às segundas, terças, quartas e quintas e são entregues às terças, quartas, quintas e sextas. Parece impossível mas é verdade porque aconteceu comigo: quando se telefona para o número que está no site responde o próprio José Mendonça. Escusado será dizer que é um prazer falar de laranjas com este grande senhor!

Sugerir correcção
Ler 3 comentários