Macron na China oferece-se como o grande interlocutor europeu

Com o recuo norte-americano no palco internacional e a perda de interesse do Reino Unido para Pequim, o Presidente francês lançou uma ofensiva de charme para Xi Jinping.

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Emmanuel Macron e Brigitte Macron junto aos guerreiros de Terracota Qin em Xian Charles Platiau/REUTERS

Se os chineses fazem “diplomacia do panda”, oferecendo alguns preciosos pandas para os jardins zoológicos de países aliados, Emmanuel Macron, cujo nome de família traduzido para mandarim dá qualquer coisa como “ma ke long”, ou “o cavalo que doma o dragão”, levou como oferta para o Presidente chinês, Xi Jinping, um cavalo da Guarda Republicana francesa. É a diplomacia do cavalo que se quer domador, ou pelo menos encantador, do grande dragão chinês.

“Vim dizer-vos que a Europa está de volta”, declarou Macron, no discurso de 60 minutos que fez na cidade de Xian no palácio Daming, local de uma antiga cidade proibida na província de Shaanxi, onde visitou o exército de guerreiros de terracota Qin, do primeiro imperador chinês (210 a.C.). Oferecer "reciprocidade" nas relações com Pequim é a grande oferta de Macron.

A intenção é marcar a posição da França como interlocutor privilegiado da China na União Europeia, num momento em que o Reino Unido perde interesse para Pequim como parceiro europeu por causa do “Brexit” – sublinham os jornais britânicos –, e também quando os Estados Unidos se ausentam voluntariamente de grandes discussões mundiais, como as alterações climáticas, ou se tornam numa potência inconstante nos palcos mundiais.

Nesta primeira visita de Estado à China, Macron fez a promessa de voltar “uma vez por ano”. E propôs “reinventar o multilateralismo” na cooperação com a China. Por exemplo, convidou Pequim a participa na iniciativa militar francesa para o combate do terrorismo no Norte de África, o G5 Sahel. Afinal, a China tem múltiplos interesses chineses em África, e a Nova Rota da Seda, o seu plano multimilionário para desenvolver infra-estruturas em mais de 60 países da Ásia Central e de África, não só os aumentará como pode torná-los mais vulneráveis.

Quando os EUA recuam na luta conta as alterações climáticas, o Presidente francês, que se tem esforçado por assumir o protagonismo rejeitado por Donald Trump, louvou o papel que a China tem tido no combate às emissões de gases com efeito de estufa e propôs organizar “um ano franco-chinês da transição ecológica” em 2018-2019. E convidou o Presidente Xi Jinping a apoiar um direito internacional para o ambiente – uma proposta apresentada pelo Estado francês nas Nações Unidas.

Mas na agenda de Macron vão também os habituais negócios que os presidentes franceses promovem, com o nuclear e os aviões em primeira linha. A China tornar-se-á em 2024 o maior mercado aeronáutico mundial, ficando à frente dos EUA, sublinha o jornal Le Monde, por isso um dos objectivos é fazer vendas de aviões do consórcio Airbus. Na calha estão vendas de A320 Neo, o mais recente A350, mas também relançar as vendas de A380, ameaçado por falta de interesse de companhias aéreas no avião superjumbo.

A empresa estatal Areva, por outro lado, está há dois anos a negociar instalações de  reprocessamento de combustível nuclear para tratar 800 toneladas por ano. É um negócio no valor de dez mil milhões de euros e, se for assinado durante a visita de Macron, será o contrato comercial mais caro de sempre jamais assinado pela França com a China.

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