Mais de 125 crianças sírias precisam de ajuda depois de ataques a hospitais

Dez ataques em dez dias, numa das piores vagas de raides contra instalações médicas nos últimos bastiões da oposição a Assad.

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Um dos muitos hospitais destruídos por bombas na Síria Abdalrhman Ismail/Reuters

Pelo menos dez centros médicos foram bombardeados ou alvo de ataques de artilharia nos últimos dez dias, denuncia Hamish de Bretton-Gordon, consultor de uma coligação de ONG médicas a operar na Síria. Os ataques concentram-se nos últimos bastiões da oposição a Bashar al-Assad – a província de Idlib e Ghouta Oriental, os subúrbios rurais de Damasco sob cerco desde 2013 e onde permanecem umas 400 mil pessoas.

Só em Ghouta, disse Bretton-Gordon à BBC, “há mais de 125 crianças que precisam de cirurgias para sobreviverem, incluindo três muito pequenas com ferimentos quase demasiado gráficos para descrever”. De acordo com o consultor da Medical Care and Relief Organization, “um bebé de seis meses que perdeu um olho vai morrer se não for operado e uma menina de oito anos que só pesa oito quilos está a morrer de malnutrição”.

Desde o início do conflito – quando Assad decidiu reprimir protestos inicialmente pacíficos, acabado por levar a população a armar-se e a juntar-se aos muitos desertores – que os hospitais são um alvo frequente das bombas sírias e, entretanto, russas, depois de Moscovo começar a combater ao lado do Governo que defende. Mas Bretton-Gordon diz que o que aconteceu nos últimos dias “é a um nível que não temos visto”.

Fora de Ghouta, há uma maternidade em Maarrat al-Numan, na província de Idlib, no Noroeste do país, que terá sido atingida três vezes em quatro dias. No pior destes ataques, na quarta-feira, cinco pessoas morreram, diz a ONG sírio-americana Syrian American Medical Society. O hospital encerrou temporariamente depois dessas mortes.

“A nova vaga de ataques a instalações médicas é doentia e inaceitável. Estes ataques forçam estes locais a encerrar, aterrorizam quem lá trabalha e resultam em dificuldades acrescidas para pacientes já em sofrimento”, indigna-se Bretton-Gordon num comunicado. “Desde o início da crise, tem havido centenas de ataques a instalações médicas muito bem documentados. É uma vergonha que não tenha havido nenhuma acusação formal por estes crimes de guerra e esse facto mina gravemente a credibilidade da ONU”, acusa.

Goutha Oriental, tal como Idlib, integram aquilo a que os russos e iranianos chamam agora zonas de “diminuição de violência”. Só que desde meio de Novembro que o regime decidiu intensificar os ataques ao enclave perto de Damasco; por outro lado, pressiona agora Idlib, avançando na direcção da capital com o mesmo nome.

Pelo caminho, avisa o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários, uma agência da ONU, que mais de 60 mil pessoas foram obrigadas a fugir de casa desde Novembro e em breve mais estarão à procura de abrigos no meio do pior frio do Inverno.

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