Filhos de padres católicos lutam pelo reconhecimento da sociedade

Vaticano terá orientações para os religiosos lidarem com as suas crianças.

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Bispos irlandeses já publicaram um conjunto de orientações para lidar com este assunto Clodagh Kilcoyne

Em criança, Vincent Doyle passou a maioria dos fins-de-semana com um padre que ele acreditava ser seu padrinho. Só anos mais tarde descobriu que era o seu pai. Agora, este psicoterapeuta de Galway, na Irlanda, fundou uma organização que promove o bem-estar dos filhos de padres e está a ser procurado por adultos com dificuldades em lidar com o assunto.

Com a imposição do celibato, o Vaticano nunca se tinha pronunciado sobre qual a responsabilidade da Igreja no apoio emocional e até financeiro dos filhos dos padres e das mães das crianças, mas essa regra será agora quebrada. Uma comissão criada pelo Papa Francisco para tratar dos abusos sexuais vai agora desenvolver linhas orientadoras sobre como as dioceses devem lidar com a questão dos filhos dos padres.

Esta decisão surge depois de os bispos irlandeses terem publicado, em Maio deste ano, um conjunto de recomendações que estão a ser consideradas um modelo mundial. As orientações vão no sentido de pedir que os padres tenham em consideração o bem-estar da criança e que assumam as suas responsabilidades legais, morais e financeiras.

A consciencialização para o problema deve-se, em boa parte, à organização fundada por Vicent Doyle – a Coping International. Um jornalista que acompanha as questões do Vaticano, John Allen, disse ao jornal The Guardian que este é um exemplo do “efeito Francisco”. “Ele encorajou uma discussão de espírito aberto”, comentou.

Com memórias carinhosas do seu pai, Vicent Doyle adoptou até o apelido, mas nem todos os filhos de padres têm esta experiencia. John Anderson, 72 anos, contactou o fundador da organização e foi incentivado a partilhar a sua história pela primeira vez. Anderson só soube aos 18 anos que o seu pai era um padre francês. Nunca o conheceu e o seu cartão de cidadão consta que a paternidade é desconhecida.

A sua mãe deveria ter entrado para um convento e ter dado o filho para adopção, mas acabou por viajar para a Austrália quando a criança tinha três anos. Como adulto, Anderson teve problemas psicológicos e fez psicoterapia, o que atribui à incapacidade da mãe de tomar conta de si quando era criança. 

Vincent Doyle considera que "o grande problema é que os filhos de padres tecnicamente não existem até que alguém diga que realmente existem, é uma batalha psicológica que as crianças enfrentam".

Como pai de três filhas, Anderson sentiu-se inseguro e incapaz de confiar em alguém. “Eu de certa forma tornei-me uma pessoa fria”, disse ao The Guardian, desejando que estes casos fossem mais falados: “Jesus Cristo não teria gostado disto.”

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