O que têm de tão especial as carapaças das tartarugas das Galápagos?

Estudo mostra as diferenças entre tartarugas quando se colocam de pé após uma queda, conforme os formatos das suas carapaças.

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A equipa a estudar as tartarugas gigantes no jardim zoológico de Roterdão, Holanda Rob Dolaard

As carapaças das tartarugas não são todas redondas como vemos em qualquer ilustração típica. Além de terem vários formatos, cada um adaptado às diferentes espécies de tartarugas, as carapaças conferem também diferentes capacidades, quer na obtenção de comida quer na capacidade de as espécies voltarem a colocar-se de pé após uma queda. Um estudo conduzido por uma equipa de investigadores na qual se inclui Arie van der Meijden, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (do Cibio) da Universidade do Porto, concluiu que as carapaças mais arredondadas permitem às tartarugas gigantes gastar menos energia depois de caírem de costas.

E, antes de irmos à carapaça, se falamos de tartarugas gigantes, temos de falar das ilhas Galápagos, onde se podem encontrar múltiplas espécies das maiores tartarugas do mundo. Importa esclarecer que existem duas formas de carapaça entre estes animais que serviram de “cobaias” ao estudo. Por um lado, as tradicionais carapaças arredondadas – apelidadas “abobadadas” –, que se encontram principalmente nas regiões montanhosas das ilhas. O segundo tipo são as carapaças de “sela”, mais estreitas e altas e com uma maior abertura para o pescoço.

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A tartaruga de carapaça abobadada e, à direita, a tartaruga de carapaça de sela Ylenia Chiari

Ao contrário do que pensavam os investigadores, as tartarugas de carapaça abobadada têm mais facilidade em se “levantarem” do que as de sela. “As espécies de sela vivem em zonas mais quentes e secas das Galápagos, com muitas rochas de lava. Geralmente, estas áreas são mais difíceis de atravessar do que zonas mais verdes e frescas, onde as espécies abobadadas vivem”, explica Arie van der Meijden ao PÚBLICO.

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Tartarugas gigantes de carapaça em forma de sela Ylenia Chiari

Como se lê no artigo científico publicado pela equipa na revista Scientific Reports, que tem como principal autor Ylenia Chiari, investigadora da Universidade do Sul do Alabama (EUA), são as tartarugas com carapaça de sela que “precisam de mais energia”. A explicação passa pelo esforço em cada acção, sendo que a carapaça abobadada permite um maior potencial de viragem, conforme descreve o estudo, já que a forma arredondada auxilia a tartaruga. Esperava-se que o pescoço mais longo das tartarugas com carapaça de sela pudesse ser um auxílio, mas os dados mostraram que essa hipótese estava errada.

O estudo também procura responder à hipótese de a forma peculiar da carapaça de sela ser o resultado da evolução em resposta à necessidade de essas tartarugas se virarem após caírem de costas. Para descobrir isso, bem como para medir a energia necessária para se colocarem de pé, a equipa internacional criou um modelo de computador baseado em 89 tartarugas de cinco espécies que foram recriadas em 3D. Além disso, os cientistas localizaram o centro de massa das tartarugas, para que se pudesse definir a energia gasta no movimento. A partir daqui, percebeu-se as capacidades distintas que uma carapaça oferece às tartarugas.

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A equipa a estudar as tartarugas gigantes no jardim zoológico de Roterdão, Holanda Rob Dolaard

Além das diferenças na viragem após uma queda, os investigadores avançaram, a partir desta descoberta, para novas hipóteses que poderão ser testadas no futuro, para esclarecer a evolução das tartarugas gigantes das Galápagos. Uma das hipóteses é a de que a extensão do pescoço e a abertura mais ampla nas tartarugas de carapaça de sela poderão ser uma adaptação para alcançarem plantas mais altas, como os cactos, um dos seus principais alimentos nesta zona. Contudo, os resultados deste estudo não permitem tirar conclusões neste aspecto, apesar de darem pistas sobre a evolução das carapaças destas espécies.

As diferenças entre as formas das carapaças das tartarugas das Galápagos “sempre foram tópico de discussão entre os biólogos”, esclarece Van der Meijden. Este estudo, apesar de “pequeno”, como nos diz, “é um passo necessário para o conhecimento da evolução”, adiantando caminho para novos testes de hipóteses para os distintos formatos.

A investigação procurou assim explicar uma das muitas questões que envolvem as tartarugas das Galápagos: as diferenças entre as carapaças. No entanto, ainda só nos é apontada uma das possíveis razões para a evolução – a capacidade de se colocarem de pé após uma queda – e ficam por responder, para já, se as lutas entre machos e a necessidade de chegar aos alimentos não contribuíram para estas diferenças.

Texto editado por Teresa Firmino

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