David Davis acusa França e Alemanha de inflexibilidade nas negociações

Ministro britânico para o "Brexit" assegura que "países como a Dinamarca, a Holanda, Itália, Espanha ou a Polónia" querem que as negociações avancem rapidamente.

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"Esta é uma decisão de toda a Europa, é uma decisão de 27 países” ANDY RAIN/EPA

O ministro britânico para o “Brexit” ficou nesta sexta-feira muito perto de quebrar a promessa, várias vezes repetida, de que não quer dividir os parceiros europeus para favorecer a sua posição nas negociações com Bruxelas. Em entrevista à BBC, David Davis acusou indirectamente a França e a Alemanha de serem responsáveis pelo impasse, afirmando que “há países que querem avançar” para a próxima fase das discussões.

As declarações de Davis, ainda sem resposta das duas capitais, surgem horas antes de a primeira-ministra britânica participar numa cimeira informal em Gotemburgo, na Suécia, dedicada aos direitos sociais na UE. Trata-se de uma das últimas oportunidades para Theresa May conversar com os líderes europeus antes do decisivo Conselho Europeu de Dezembro, quando os 27 voltarão a avaliar se foram feitos avanços suficientes nas negociações para permitir o arranque da segunda fase do processo.

Bruxelas insiste que não haverá “luz verde” sem que o Reino Unido clarifique quais os compromissos financeiros que assumiu enquanto Estado-membro que vai liquidar – um montante que a UE calcula na ordem dos 60 mil milhões de euros –, mas o Governo britânico mantém-se renitente, insistindo que só poderá aceitar um valor final quando em cima da mesa estiver o futuro das relações – sobretudo comerciais – entre os dois blocos.

“É claro que eles estão a dizer isso, mas também é claro que muitos deles querem avançar. É muito importante para eles”, disse o ministro britânico. “Países como a Dinamarca, a Holanda, Itália, Espanha ou a Polónia podem ver que há grandes, grandes benefícios do acordo de que estamos a falar”, sublinhou, afirmando que não é só o Reino Unido que tem a ganhar com o início das negociações comerciais.

“Esta não é uma estrada de sentido único”, insistiu, garantindo que o Governo britânico já fez concessões importantes, incluindo sobre os direitos dos cidadãos europeus que residem no país. “Eu quero que eles fazem concessões porque, surpresa das surpresas, tudo tem um preço”. 

O ministro britânico afirmou que “é um segredo mal guardado” que a Alemanha e a França – as duas capitais que Londres considera mais hostis às suas posições – são os países com mais peso político na tomada de decisões europeias. “São os jogadores mais influentes na Europa. Por isso aquilo em que eles acreditam pode ter grande influência, por vezes decisiva. Mas esta é uma decisão de toda a Europa, é uma decisão de 27 países”, afirmou, dando a entender que há da parte de países mais pequenos a vontade de uma maior flexibilidade em relação ao mandato que foi atribuído a Michael Barnier, o chefe dos negociadores europeus.

Na véspera, Davis tinha já causado surpresa quando, num jantar com empresários alemães, tinha desafiado o país a dar prioridade nesta discussão aos seus interesses económicos. “Pôr a política à frente da prosperidade nunca é uma escolha inteligente”, afirmou, criticando aquela que tem sido a posição oficial quer do Governo quer da própria indústria alemã de que a saída britânica e o acordo comercial que as duas partes querem negociar não podem beliscar a coesão europeia e o mercado único.

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