Rajoy pede à "maioria silenciosa" que vote nas eleições na Catalunha

Presidente do Governo espanhol visita Barcelona pela primeira vez desde a aplicação do artigo 155.

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Para Rajoy as eleições têm como objectivo restabelecer a ordem legal e democrática e nã referendar a independência ALBERT GEA/Reuters

O presidente do Governo de Espanha, Mariano Rajoy, pediu aos catalães que votem nas eleições antecipadas marcadas por Madrid para 21 de Dezembro para que a Catalunha possa “voltar à normalidade”.

Rajoy esteve em Barcelona pela primeira vez desde que Madrid decidiu a aplicação do artigo 155 da Constituição, que lhe permitiu assumir poderes sobre a Catalunha e dissolver as instituições regionais autonómicas, na sequência da declaração unilateral de independência feita pelo presidente da Generalitat, Carles Puigdemont.

“Queremos uma enorme afluência para começar uma nova era política de tranquilidade,e normalidade, coexistência e respeito”, disse Rajoy num encontro com elementos do seu Partido Popular na Catalunha. “Temos de trazer a Catalunha rapidamente de volta a normalidade, para reduzir a tensão social e parar os danos feitos à economia” pelo referendo considerado ilegal por Madrid e pela declaração de independência.

Rajoy apelou à “maioria silenciosa”, que em Outubro se manifestou nas ruas de Barcelona a favor da continuação da Catalunha como região autonómica do Estado espanhol, para que vá votar numas eleições que, ao contrário do referendo de 1 de Outubro, “serão verdadeiras e terão garantias democráticas”.

Os dois principais partidos independentistas, Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e o partido do presidente destituído da Generalitat, Carles Puigdemont, PDeCAT, que estavam juntos no anterior governo regional, não chegaram a acordo para concorrer juntos. A ERC, cujo líder, Oriol Junqueras, está detido preventivamente assim como outros sete ex-conselheiros da Generalitat (dois líderes de associações pró-independência estão também detidos), afastou a hipótese de se aliar ao partido de Puigdemont, que ficou em Bruxelas junto com outros quatro ex- conselheiros – todos estão sujeitos a um mandado de detenção europeu que está de momento a ser analisado por um magistrado belga.

Também o partido independentista radical CUP decidiu neste domingo concorrer nas eleições – 91% dos membros do partido querem participar na votação embora a considerem ilegal por esta ter sido ditada por Madrid.

Segundo uma sondagem efectuada já depois da aplicação do artigo 155 e destituição da Generalitat, a participação eleitoral deverá aumentar em relação às eleições anteriores, prevendo-se que mais de 80% dos eleitores vão às urnas.

A ERC seria o partido mais votado obtendo 45 deputados, seguida do Cidadãos (pró-Madrid) com 27, Partido Socialista da Catalunha com 19, PDeCat com 14, e finalmente PP com 10 e Catalunha em Comum com nove. Os independentistas ERC, PDeCAT e CUP poderiam ficar ligeiramente abaixo da maioria absoluta de 68 deputados.

Em relação às eleições, Rajoy – que tem sido desafiado pelos independentistas a aceitar as consequências em caso de vitória dos partidos que defendem a secessão – sublinhou que estas serão “eleições autonómicas, dentro da Constituição, da legalidade e do estatuto”, e que têm o objectivo de “restabelecer a ordem legal e democrática, que o governo de Carles Puigdemont decidiu saquear”.

A imposição do artigo 155 por Madrid é vista de modo muito diferente na Catalunha e no resto de Espanha: 54% dos espanhóis fazem uma avaliação positiva do modo como o Governo lidou com a crise, diz o diário El País, enquanto apenas 28% dos catalães são desta opinião.

A aplicação da medida foi ainda a razão para a decisão do Catalunha em Comum, da presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, anunciar que rompe o acordo com o Partido Socialista da Catalunha. A decisão foi tomada após uma consulta aos elementos do partido, 54% votaram a favor do fim do pacto.

Colau, que não tornou público o sentido do seu voto, diz que irá agora governar em minoria procurando apoios conforme as questões.

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