“A televisão é para pessoas mais velhas”

O jornalismo tem que voltar à receita básica para se diferenciar, foi defendido hoje na Web Summit. Mas, “sob fogo”, os media vão ter de se comprometer para captar as gerações mais jovens

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Ricardo Lopes

 “Sem mencionar o presidente [dos EUA], qual foi para vós a coisa mais importante que aconteceu na área dos media” nos últimos tempos? A pergunta, do redactor da revista The Atlantic, Vann R. Newkirk, foi feita manhã desta quarta-feira a Cenk Uygur e a Joe Pounder, durante a Web Summit, no painel “Os media sob fogo”.

Joe Pounder, presidente do organismo Definers Public Affairs, uma consultora na área de comunicação e ex-conselheiro do senador republicano Marco Rubio, destacou, em primeiro lugar, a “imprevisibilidade” da duração de uma notícia. “Podem ser 15 minutos, podem ser cinco dias – é imprevisível” saber quanto tempo irá “durar” o interesse e a própria notícia.

Para Cenk Uygur, criador do The Young Turks, programa noticioso online que alega ter 200 milhões de visitas por mês, foi na televisão que houve maiores mudanças. A televisão americana perdeu 40% dos seus telespectadores com menos de 25 anos – “a televisão é para pessoas mais velhas”, defendeu o orador.

Partindo desta premissa, e tentando atrair ainda mais subscritores, Cenk Uygur resumiu: “os millennials não gostam de tv e já não acreditam [nela]”. Uygur, que falava essencialmente a partir do exemplo dos EUA, defendeu que os media tradicionais “acreditam na manutenção do status quo político, urbano – não querem a mudança” e, por isso, advoga, “perderam a credibilidade”.

É nesta altura, defendeu o anfitrião do programa online “Os jovens turcos”, que surge uma “oportunidade” para novas vozes, não tradicionais, de informação, nem sempre jornalística, que defendem que “eles [os media convencionais] estão a mentir” porque estão comprometidos com o regime, “deixem-me vos dizer a verdade”, argumentam os novos protagonistas de media.  

É por isso que contra um jornalismo “neutro”, de indiferente, que se limita a dizer quem ganhou e perdeu numa eleição como num jogo de futebol;, ou contra um jornalismo “objectivo” que, ainda assim, não se compromete;  Uygur defendeu o “seu” jornalismo: o que chamou de “prospectivo”, “que pede que nos preocupemos”, “porque somos activistas”.   

“Back to basics”

Joe Pounder, por seu turno, sugeriu que os jornais (os exemplos foram igualmente norte-americanos: New York Times, Washington Post e The Atlantic), com “credibilidade” no mercado, têm que voltar ao básico. “Fazer reportagem tradicional, com múltiplas fontes” é “diferenciar-se”, agora que os media tradicionais perderam a sua característica de “utilidade pública” e de “gatekeeper”.

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