Ex-conselheiro de Trump disse a agentes russos que a campanha aprovou reuniões

George Papadopoulos foi detido pelo FBI em Julho e desde então tem colaborado com os investigadores. Especialista considera que antigo responsável "está a ser usado como isco".

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A imagem em que Papadopoulos (3.º a partir da esquerda) surge numa reunião com Donald Trump foi partilhada pelo Presidente norte-americano no Twitter DR

Já se sabia que um antigo conselheiro de Donald Trump está a colaborar com o FBI na investigação sobre a Rússia, mas não se conheciam indícios de que esse conselheiro, George Papadopoulos, agiu com a autorização dos seus chefes quando tentou marcar uma reunião com agentes russos. Agora, os documentos da acusação que foram abertos ao público pintam uma história diferente: num e-mail enviado em Junho do ano passado, Papadopoulos disse a um contacto russo que a reunião tinha luz verde dos seus superiores.

"Quando escreveu ao contacto russo uma semana antes da Convenção Nacional do Partido Republicano, Papadopoulos propôs uma reunião para Agosto ou Setembro no Reino Unido, que contaria com a presença do 'meu presidente nacional [Paul Manafort, também já acusado na investigação] e talvez um outro conselheiro de política externa', e membros do gabinete de Putin e do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia", lê-se nos documentos da acusação contra George Papadopoulos.

O antigo conselheiro de política externa da campanha de Donald Trump foi detido a 27 de Jullho por ter mentido aos investigadores do FBI sobre os seus contactos com agentes russos – desde então tem colaborado com a investigação, e pode ter ajudado  a recolher mais informações sem o conhecimento de outros elementos da campanha de Trump.

Ainda não se sabe se essas reuniões chegaram mesmo a realizar-se, e ninguém pode garantir que o e-mail enviado por Papadopoulos não foi apenas a gabarolice de um aspirante a especialista em política externa – afinal, era muito pouco conhecido no meio quando foi contactado pelo então vice-director da campanha de Donald Trump, Sam Clovis, no início de Março de 2016.

Um dos professores de Papadopoulos na Universidade DePaul, Richard Farkas, disse ao site The Daily Beast que o antigo aluno "sabia que a sua experiência era virtualmente inexistente" e que Papadopoulos fez o que muitos outros jovens fazem quando querem entar numa campanha presidencial: "Exageram a sua experiência. O George fez isso em doses muito elevadas, e isso era assunto de conversa no nosso departamento."

Na quarta-feira, na conferência de imprensa diária na Casa Branca, a porta-voz Sarah Huckabee Sanders foi muito cuidadosa ao responder sobre se o Presidente norte-americano se "lembra" que Papadopoulos sugeriu um encontro entre o então candidato Trump e Vladimir Putin, Sarah Huckabee Sanders não fez um desmentido taxativo, dizendo apenas: "Não, penso que ele não se lembra."

Se Papadopoulos mentiu aos superiores para tentar avançar na carreira, ou se foi contratado pela campanha para se aproveitarem dele precisamente por ser pouco experiente, é um assunto que os investigadores do procurador especial Robert Mueller tentaram perceber nos últimos meses. O facto de Papadopoulos ser um antigo conselheiro pouco relevante e inexperiente não significa que tenha pouca importância para a investigação, disse ao Guardian o advogado nova-iorquino e antigo procurador federal Todd Blanche: "Todos os casos desta natureza que são bem-sucedidos precisam de um colaborador. Se assumimos que há conluio, é muito difícil prová-lo sem ter alguém por dentro."

O FBI já confirmou que Papadopoulos é um "colaborador proactivo", mas é da natureza de uma investigação que ninguém saiba muito bem o que isso quer dizer. John Lauro, advogado de crimes de colarinho branco em Nova Iorque, tem uma ideia bastante clara: "Ele está a ser usado como isco, sem dúvida. É óbvio que o pressionaram, e eu não ficaria nada surpreendido se Papadopoulos tivesse gravado conversas com outras pessoas que estão a ser investigadas", disse o advogado ao Guardian.

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