“Ninguém ficou do nosso lado a não ser as montanhas”, disse líder curdo no discurso de demissão

Massoud Barzani acusa o governo iraquiano de não acreditar nos direitos dos curdos e aponta também o dedo aos Estados Unidos por quererem “punir” o Curdistão.

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“Sem a ajuda dos peshmerga [guerreiros curdos], as forças iraquianas não teriam conseguido reconquistar sozinhas Mossul ao Daesh”, disse Barzani Reuters/Azad Lashkari

O presidente do Curdistão iraquiano e comandante dos peshmerga Massoud Barzani fez um discurso neste domingo em que anunciou a sua demissão depois de dizer, num tom amargurado, que ninguém fora da região curda apoiou os seus direitos à autonomia.

O discurso televisivo de Barzani foi emitido depois de o parlamento do Curdistão no Iraque ter aprovado o seu pedido de não prolongar o seu mandato após o início do próximo mês. Tudo isto após Barzani ter promovido, em Setembro, um referendo de independência que acabou por correr mal: a iniciativa espoletou acção militar e retaliação económica contra a região curda, que é liderada por Barzani desde 2005.

“Três milhões de votos pela independência curda fizeram história e não podem ser apagados”, disse ainda, referindo-se ao referendo de 25 de Setembro. “Ninguém ficou do nosso lado a não ser as nossas montanhas”, afirmou, discursando com as bandeiras do Curdistão e do Iraque atrás de si.

O líder curdo criticou ainda os Estados Unidos por permitirem que os tanques de guerra fornecidos às forças iraquianas com o intuito de combater o Daesh estivessem a ser usados contra os curdos. Barzani referiu que as armas norte-americanas estavam também a ser usadas em ataques paramilitares apoiados pelo Irão.

“Sem a ajuda dos peshmerga [guerreiros curdos], as forças iraquianas não teriam conseguido reconquistar sozinhas Mossul ao Daesh”, considerou ainda, referindo-se ao antigo bastião do Daesh no norte do Iraque. “Porque é que Washington quer punir o Curdistão?”, indagou.

Barzani declarou ainda que os seguidores do antigo Presidente iraquiano, Jalal Talabani – que morreu no início de Outubro –, eram culpados de “traição” por terem deixado que a cidade de Kirkuk, rica em petróleo, fosse conquistada pelas forças iraquianas há duas semanas sem que houvesse luta. E terminou o discurso vincando que “o Iraque já não acredita nos direitos dos curdos”, face às ofensivas do governo iraquiano e à sua recusa de dialogar.

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