Exército iraquiano toma Kirkuk aos curdos arriscando abrir nova frente de guerra

Peshmerga terão recuado perante o avanço rápido das forças federais, que lançaram ofensiva menos de um mês depois de referendo à independência do Curdistão.

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Soldado iraquiano festeja a reconquista de Kirkuk Reuters

O Exército iraquiano reassumiu o controlo de Kirkuk menos de 24 horas depois de ter lançado uma vasta operação para reconquistar a cidade e as estratégicas unidades petrolíferas que a rodeiam, controladas desde 2014 pelas forças do Curdistão iraquiano. A ofensiva, que não se deparou com uma feroz resistência, acontece  menos de um mês depois de os curdos iraquianos terem votado a favor da independência, num referendo repudiado por Bagdad e os países vizinhos.

Residentes e fontes do Governo iraquiano, citados pela televisão Al-Jazira e a agência Reuters, contam que uma coluna de blindados do Serviço de Contra Terrorismo chegou a meio da tarde à sede do governo da província, no centro da cidade, e os militares assumiram o controlo da zona sem encontrar oposição, acabando por retirar do edifício a bandeira curda e hasteando em seguida a do Iraque.

Pouco depois, o Exército garantia que Kirkuk estava de novo sob a alçada do Governo federal, perante informações de que os peshmergas (forças curdas) tinham abandonado as posições que ocupavam no centro e arredores da capital provincial. Durante a madrugada e manhã, as forças federais tinham já conquistado o aeroporto, campos petrolíferos e bases militares no Sul da cidade, onde terão ocorrido os únicos combates de que há registo. “Vai haver muitas recriminações, perguntas e revolta por parte do governo regional curdo em relação ao que aconteceu depois de dias de retórica em que se garantiu que os curdos estavam unidos e iriam defender Kirkuk a todo o custo”, adiantou Charles Stratford, enviado da Al-Jazira à cidade.

A confirmar-se, a rápida reconquista da cidade é um importante triunfo para o primeiro-ministro Haider al-Abadi, sob pressão do Parlamento iraquiano e das poderosas milícias xiitas para responder em força ao desafio do referendo curdo.

A província de Kirkuk, uma das mais ricas em petróleo, não integra o Curdistão iraquiano mas está situada junto às fronteiras da região autónoma e pertence ao território historicamente reclamado pelos curdos. Em 2014, os peshmergas aproveitaram o desmoronamento do Exército iraquiano, perante as rápidas conquistas dos jihadistas do Daesh, para assumir o controlo da província e, num novo desafio à autoridade de Bagdad, incluíram a região na consulta de 25 de Setembro, em que 93% dos votantes votaram a favor da independência.

Não é claro se o Exército iraquiano tem planos para avançar em direcção ao Curdistão – após o referendo Abadi deu ordens para a reconquista de todas as zonas disputadas, mas insiste que não quer entrar em guerra com a região autónoma. Mas o avanço sobre Kirkuk é, em si, uma decisão extremamente arriscada. A Reuters conta que milhares de pessoas fugiram perante o avanço dos militares, grande parte deles civis curdos que temem retaliações das outras comunidades que vivem numa das cidades mais diversas do Iraque.

“O dia de hoje deveria tornar-se feriado, estamos tão felizes por nos vermos livre do partido do [presidente curdo Massoud] Barzani”, disse um habitante turcomeno (etnia de maioria xiita) que festejava nas ruas a chegada do Exército. E ainda antes da perda da cidade, um porta-voz de Barzani afirmava que “o governo de Abadi carrega a responsabilidade pelo início de uma guerra contra o povo do Curdistão, pela qual irá pagar um preço pesado”. 

O Exército norte-americano, que depende das duas forças para combater o Daesh no Iraque, tem tentado convencer curdos e governo federal a não entrarem em confronto, receando que a abertura de uma nova frente de guerra no país prejudique a luta contra os jihadistas e abra caminho à intervenção directa das nações vizinhas, ferozes opositoras da independência curda

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