Governo espanhol e independentistas catalães jogam os últimos trunfos

Para Rajoy, é vital impedir o referendo. Para os independentistas, o que importa são as imagens de uma massa de votantes.

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Josep Lluís Trapero, chefe dos Mossos d’Esquadra

Em Barcelona, os acontecimentos sucedem-se a um ritmo que desactualiza as notícias em poucas horas. O que se joga é a realização ou a neutralização do referendo independentista marcado para domingo. O Governo espanhol e os independentistas agem numa lógica de acção-reacção e movimentam as suas peças como numa partida de xadrez rápido. A tensão sobe.

O Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC) ordenou a todas as forças policiais que impeçam a abertura de assembleias de voto. A Procuradoria catalã tinha ordenado, na terça-feira, aos Mossos d’Esquadra (polícia autonómica) que procedessem, a partir de amanhã, ao encerramento dos edifícios em que se prevê a instalação de assembleias de voto e à apreensão de urnas, cadernos e boletins de voto. Agora, o TSJC alarga a ordem à Polícia Nacional e à Guardia Civil. E ordenou a abertura de uma investigação a Carles Puigdemont, presidente da Generalitat (governo catalão), e outros membros do seu executivo.

Por sua vez, a Generalitat e as associações independentistas voltaram a garantir a abertura das assembleias de voto. Algumas instalações, sobretudo escolas, estavam a ser ocupadas por independentistas, nomeadamente activistas da Candidatura de Unidade Popular (CUP, anarco-nacionalista).

O chefe dos Mossos, Josep Lluís Trapero, esteve reunido de manhã com os responsáveis máximos da segurança na Procuradoria da Catalunha. Não prestou declarações. Mas manifestou as suas reservas: fez saber que “o cumprimento das instruções não exclui a responsabilidade profissional” perante o risco de perturbação da ordem pública. Deverão ser aplicadas com “oportunidade, proporcionalidade e congruência”. Quer evitar aos polícias o choque com manifestantes.

Entretanto, Puigdemont convocou uma Junta de Segurança da Catalunha, que reúne os responsáveis de Barcelona e de Madrid. O Ministério do Interior espanhol far-se-á representar.

A estratégia independentista

A situação chegou a um ponto crucial. Mariano Rajoy anunciou categoricamente que não haveria referendo no dia 1 de Outubro. O Governo sabe que, se mostrar que não controla o território, sofre uma derrota política. Os independentistas passaram todas as “linhas vermelhas” e também já não podem recuar, sob pena de derrota e ruptura da “unidade nacionalista”.

A estratégia independentista consiste em ocupar preventivamente os locais de voto através de piquetes de activistas, que constituiriam uma espécie de “escudo humano” contra a intervenção policial. Quando a polícia chegar, para fechar um edifício ou apreender urnas, deparará com uma multidão. A Generalitat propõe-se anunciar rapidamente, no domingo, o “resultado do referendo”, fazendo destruir a seguir urnas e cadernos eleitorais.

O que neste momento move os independentistas é a mobilização. E a batalha das imagens. Apostam nas televisões e nos fotógrafos: querem dar a impressão de uma votação maciça e, se possível, contrapor nacionalistas e polícias.

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