Pelo menos seis membros da Administração Trump utilizaram emails pessoais para assuntos da Casa Branca

Para além do genro de Trump, Jared Kushner, há mais cinco actuais e ex-responsáveis da Casa Branca visados, entre os quais Ivanka Trump.

Foto
Steve Bannon e Reince Priebus também estão usaram contas pessoais enquanto estavam em funções Reuters/JOSHUA ROBERTS

Pelo menos seis actuais e antigos membros da Administração Trump utilizaram o email pessoal para tratar de assuntos governamentais. A revelação surge um dia depois de Jared Kushner, conselheiro presidencial e genro de Donald Trump, ter admitido através do seu advogado que recorreu ao seu email pessoal para discutir assuntos da Casa Branca com vários membros do executivo. Para além de Kushner, que terá trocado cerca de 100 mensagens desta forma, também o ex-conselheiro presidencial Steve Bannon, o antigo chefe de gabinete Reince Priebus, o conselheiro económico Gary Cohn e o conselheiro político Stephen Miller terão recorrido a endereços privados, avançou o New York Times, citando fontes próximas da Casa Branca. A lista fica (para já) fechada com a filha mais velha do Presidente e membro da Administração Ivanka Trump, nome acrescentado pela Newsweek

Em causa poderá estar a violação das regras de transparência a que os membros do Governo norte-americano estão obrigados, e que determina que estes devem recorrer a endereços de email oficiais, ficando as respectivas mensagens arquivadas.

O Congresso quer mais explicações. Numa carta endereçada ao conselheiro de Trump Don McGahn e assinada pelo republicano Trey Gowdy e pelo democrata Elijah Cummings, os congressistas enumeram várias exigências que esperam ver respondidas até dia 9 de Outubro.

O episódio ganha especial relevância à luz do que se passou durante a campanha presidencial de 2016, quando Donald Trump atacou repetidamente a sua adversária, Hillary Clinton, precisamente pelo recurso a um servidor privado de email enquanto esta desempenhava o cargo de secretária de Estado no Governo de Barack Obama. Trump chegou mesmo a acusar Clinton de ter cometido um crime e exigiu a sua prisão. “Não podemos deixá-la levar estes esquemas criminosos para a Sala Oval”, afirmava então Trump, enquanto os seus apoiantes gritavam “Lock her up!” (“Prendam-na!”).

O FBI abriu, encerrou e reabriu uma investigação ao caso, mas a democrata nunca chegou a ser acusada de qualquer crime. No entanto, Clinton ficaram sempre no ar as suspeitas e as críticas pelo facto de Clinton ter guardado informação confidencial num servidor privado, através do qual trocou dezenas de milhares de emails durante os quatro anos em que foi chefe da diplomacia norte-americana.

O efeito boomerang atinge agora a equipa de Trump depois de, no domingo, ter sido revelado que Jared Kuschner, seu conselheiro e genro, também recorreu a um email pessoal já depois do caso Clinton ter sido amplamente explorado pela campanha republicana. Esse escândalo, aliás, é apontando como uma das principais razões para a derrota dos democratas

No entanto, para já, e com base nas informações até agora conhecidas, sabe-se que existem diferenças entre os dois casos. A maioria dos conselheiros de Trump utilizou endereços do Gmail, e não um servidor privado. Já Kushner recorreu de facto a um domínio próprio, IJKFamily.com, gerido pela empresa de domínios GoDaddy, detalha o Times

Questionada sobre o caso, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, limitou-se a responder que tinham sido dadas instruções “a todo o pessoal da Casa Branca” para que utilizassem endereços oficiais de email. Caso recebam emails sobre assuntos governamentais num endereço privado, os membros do executivo estão obrigados a reencaminhar as mensagens para o email oficial, acrescentou. O incumprimento deste requisito traduz-se na violação das regras de transparência do Governo norte-americano, que determina a preservação e o arquivamento das comunicações dos altos dirigentes.

No entanto, esta resposta da Casa Branca não satisfez o Congresso, nem do lado dos democratas nem do lado dos próprios republicanos, que exigem mais detalhes, incluindo números de telemóvel que possam ter sido usados para a transmissão de mensagens encriptadas. 

O recurso a um email pessoal poderá dificultar a investigação de que Kushner é alvo pela suspeita de ter solicitado ao embaixador russo em Washington a abertura de um canal de comunicação secreto com Moscovo, precisamente para escapar ao escrutínio das agências secretas norte-americanas.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários