Os e-mails de Clinton caíram na campanha como uma bomba. Mas quão forte?

Candidata democrata desce nas sondagens sempre que o assunto das mensagens electrónicas surge. Mas não é possível perceber já se o anúncio sem precedentes do FBI a dez dias das eleições será uma arma atómica ou um percalço para Clinton.

Foto
AFP/BRENDAN SMIALOWSKI

Uma série de e-mails cuja ligação a Hillary Clinton é tortuosa estão a dominar a campanha presidencial a dez dias das eleições. Com informações a chegar a conta-gotas, as mensagens que o FBI anunciou ir analisar não parecem trazer nada de novo. Mas o caso trouxe para a ribalta a credibilidade da candidata democrata, que tem aqui o seu grande ponto fraco. A segunda vítima é o próprio director do FBI, James Comey, acusado de quebrar a tradição de não fazer anúncios sobre investigações a decorrer especialmente quando o timing político é sensível.

Hillary Clinton pediu já ao FBI que dê toda a informação possível sobre o caso, o que pode ser impossível uma vez que os investigadores ainda não determinaram se existia informação classificada ou sensível nos e-mails que vão ser analisados. “Ouvimos estes rumores, e não sabemos no que havemos de acreditar”, disse Clinton numa breve conferência de imprensa. “Até o director [do FBI] Comey disse que a informação pode não ser significativa. Portanto, vamos divulgá-la.”

Para o candidato republicano Donald Trump, esta revelação sem pormenores foi um presente. “A corrupção de Hillary Clinton é de uma escala que nunca vimos antes”, declarou. “Houve um grave desvio do curso da Justiça que o povo americano percebeu completamente e que toda a gente espera que seja agora corrigido”, disse Trump numa acção de campanha logo após as revelações. “Afinal, pode não estar tão viciado como eu pensava”, acrescentou depois, retomando um dos seus temas de campanha: que o sistema está feito para dar a vitória à sua adversária e não a um outsider como ele. A multidão no comício rejubliou: "Prendam-na! Prendam-na!"

Os e-mails que o FBI vai agora analisar foram encontrados num computador partilhado pela chefe de gabinete adjunta de Clinton, Huma Abedin, e o seu então marido, Anthony Weiner (os dois estão entretanto separados), numa investigação sobre se Weiner terá enviado mensagens sexualmente explícitas a uma adolescente de 15 anos na Carolina do Norte.

A acção de Comey, um republicano nomeado pelo Presidente Barack Obama, está a provocar um nível extraordinário de críticas dentro do próprio FBI e de antigos procuradores, diz a revista New Yorker. Funcionários do FBI temem que a imagem da imparcialidade política do organismo tenha sido comprometida (segundo a revista Newsweek), antigos responsáveis lembram que a atitude de Comey marca uma diferença em relação aos seus antecessores, que sempre mantiveram investigações secretas em alturas sensíveis (ainda segundo a New Yorker) e antigos procuradores sublinham que revelar uma informação que não acrescenta quaisquer dados concretos não dá qualquer valor acrescentado aos cidadãos, servindo apenas para aumentar a especulação (segundo o site Politico).

A grande questão é, agora, que efeito poderá ter esta revelação na corrida, quando não é certo se o FBI dará mais informação ou deixará o caso por explicar. Cada vez que o assunto e-mails surge, Clinton desce nas sondagens. Aconteceu em Julho, quando o director do FBI disse que não ia recomendar acusação a Clinton pelo uso de um servidor privado para questões de Estado: um dia antes do anúncio, Clinton tinha uma vantagem de quatro pontos percentuais sobre Trump num conjunto de sondagens do Huffington Post. Uma semana depois, desceu para 2,5 pontos percentuais, lembra o site Politico.

O site nota ainda que o uso de uma conta de e-mail privada (levantando questões de exposição de informação confidencial e de registos do Estado) é para Clinton o mesmo que o tratamento degradante das mulheres é para Trump: muitos eleitores vêem ambos os casos “como indicadores de carácter e capacidade para ser Presidente”: 62% para Clinton e os e-mails, 59% para Trump e as mulheres.

A democrata diminuiu entretanto a sua vantagem sobre Trump nas sondagens Washington Post/ABC, diz o diário norte-americano, com uma margem de dois pontos percentuais, com 47% das intenções de voto para Clinton e 45% para Trump.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários