Mais de metade dos portugueses desconhece a origem da carne que compra

Estudo da associação de suinicultura coloca a carne de aves no primeiro lugar das preferências nacionais. Para 34% dos inquiridos, a carne mais saborosa é a do porco. Projecto Porco.Pt aposta na certificação da produção nacional.

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Apenas três em cada 100 portugueses não incluem o consumo de carne na sua dieta alimentar, mas a generalizada preferência por bifes de vitela, asas de frango ou costeletas de porco exerce-se em mais de metade dos casos (52%) sem que os consumidores conheçam a origem da carne que compram. Um estudo encomendado pela Federação das Associações de Suinicultores (FPAS) à consultora GfK revela uma relação com a proteína de origem animal intensa e ao mesmo tempo pouco exigente.

A maioria não só não se preocupa com a proveniência da carne como não está disposta a fazer grandes investimentos na qualidade. Só 29% dos consumidores entrevistados para este estudo estão dispostos a pagar mais por carne mais tenra, ou produzida sem corantes, conservantes e antibióticos. Em média, nota o estudo, cada lar gasta 243 euros por mês em alimentação, cabendo à carne 29% desta despesa.

Para os produtores de carne de suíno, que viveram uma conjuntura difícil em 2015 e 2016, o estudo traz boas e más notícias. A melhor de todas as notícias é que a maioria dos portugueses considera a carne de porco como a “mais saborosa” – 34%, contra 31% que elegem a carne de aves e 30% carne bovina. Na maior parte dos casos, as preferências vão para as costeletas, para o lombo e as bifanas.

Mas, ao mesmo tempo, entre as três variedades mais consumidas, o porco é a carne que consideram ser menos saudável (só 2% dos inquiridos dizem o contrário) ou a de menor qualidade (apenas 8% não subscrevem esta tese).

Mas, se desconhecem a origem da carne que compram, os portugueses acolhem com particular simpatia a produção nacional. Se lhes perguntarem se a origem é importante, apenas 47% diz que sim. Mas se os inquirirem sobre se é importante que a carne seja portuguesa, aí já há 60% a responder afirmativamente.

Para os suinicultores nacionais, esta abertura é uma oportunidade. Já este ano, a FPAS lançou o projecto Porco.pt para permitir aos consumidores o exercício dessa preferência. A carne com indicação de origem garantida pela federação encontra-se hoje em cadeias como Intermarché, Jumbo e Pingo Doce. “Queremos acrescentar valor à carne de porco pela diferenciação”, explica David Neves, vice-presidente da FPAS.

Após dois meses de experiência, entre 20 a 25% da produção nacional ostenta já um selo de origem nacional. “A rastreabilidade da carne, desde o nascimento dos animais até à chegada ao mercado, fica assim garantida”, explica David Neves. Com os passos da cadeia de produção registados, a qualidade da alimentação dos animais é maior e o espaço de que dispõem nas explorações ou no momento do transporte é maior. O que implica custos maiores.

Seja pelo preço, pelo hábito ou pelo gosto, a carne de porco é a segunda mais consumida em Portugal, de acordo com o universo dos consumidores consultados. Se 51% dos inquiridos dizem que a carne que mais compram é de aves, 28% aposta na carne suína e apenas 15% na carne bovina.

Os portugueses que mais a procuram nos talhos ou nas grandes superfícies são em primeiro lugar mulheres, têm mais de 65 anos, situam-se nas classes de rendimentos D (médio-baixo) e vivem na Grande Lisboa.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, cada português consome em média 43,9 quilos de carne suína por ano. O efectivo da suinicultura é composto por cerca de 1,8 milhões de porcos de engorda e 185 mil reprodutoras.

No ano passado, o sector produziu perto de 400 mil toneladas de carne, satisfazendo 74% das necessidades do mercado nacional, e facturou 563 milhões de euros.

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