Coreia do Norte aponta ao Japão para evitar “fogo” e “fúria” de Trump

Pela primeira vez, Pyongyang fez teste de armamento que sobrevoou território japonês em resposta aos exercícios militares dos EUA e da Coreia do Sul na região.

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Elemento das forças de autodefesa japonesas durante um exercício convocado de urgência em resposta ao lançamento do míssil norte-coreano Reuters/ISSEI KATO

O Japão acordou em sobressalto durante a madrugada de terça-feira, quando um míssil norte-coreano sobrevoou a ilha de Hokkaido, naquele que foi o mais recente episódio do Verão quente em torno da Península Coreana. Donald Trump lembrou que “todas as opções estão em cima da mesa” para impedir a Coreia de ameaçar a sua vizinhança, acenando com a possibilidade de uma intervenção militar, mas o regime de Pyongyang não parece dar mostras de travar o desenvolvimento dos seus programas balístico e nuclear.

“O mundo recebeu a mais recente mensagem da Coreia do Norte de forma audível e clara: este regime mostrou desprezo pelos seus vizinhos, por todos os membros das Nações Unidas, e pelos padrões mínimos do comportamento internacional aceitável”, afirmou o Presidente dos Estados Unidos, de acordo com um comunicado divulgado pela Casa Branca.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, considerou o ensaio balístico norte-coreano uma “acção irreflectida e sem precedentes”. Trump e Abe falaram ao telefone e prometeram “aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte”. Foi também convocada uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, da qual a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, apelou a que saia uma viragem de política: "A Coreia do Norte violou todas as resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança, por isso temos de fazer alguma coisa a sério", pediu.

O Pentágono confirmou à Reuters que o míssil disparado é da classe Hwasong-12, de médio alcance, e terá viajado mais de 2700 quilómetros, alcançando uma altitude de 550 quilómetros, antes de se despenhar no Oceano Pacífico e se separar em três partes. O Japão não tentou abater o míssil, diz a BBC, mas foram emitidos avisos para a população da ilha de Hokkaido procurar abrigo. Em 1998 e 2009, Pyongyang lançou foguetões que sobrevoaram o Japão, mas garantiu estarem relacionados com o seu programa de satélites e, portanto, não teriam fins militares.

China pede diálogo

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, disse que a situação na Península Coreana se está a “aproximar de um ponto crítico” e pediu a abertura de um processo de diálogo. “Estamos extremamente preocupados com o desenvolvimento geral” da situação na península, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, citado pela agência estatal RIA Novosti.

Em resposta a Pyongyang, a Coreia do Sul revelou imagens do lançamento de três mísseis que tinham sido realizados dias antes. Segundo o Ministério da Defesa, os mísseis testados fazem parte do plano de “decapitação” da liderança norte-coreana – um dos cenários contemplados por Seul e Washington. O Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, tinha pedido às suas Forças Armadas que mostrassem “um forte poder retaliatório”.

O novo lançamento de um míssil pela Coreia do Norte acontece numa altura de elevada tensão na região. No início do mês, o Presidente dos EUA prometeu que iria lançar “fogo” e “fúria” sobre o país, caso este continuasse a desenvolver o seu armamento nuclear – as declarações de Trump aconteceram horas depois de ter sido revelado um relatório da comunidade de serviços de informação que concluía que Pyongyang tinha conseguido miniaturizar as ogivas nucleares de forma a poder incorporá-las em mísseis. O regime norte-coreano respondeu com uma ameaça contra a ilha de Guam, território norte-americano no Pacífico que alberga milhares de soldados. Dias antes, o Conselho de Segurança da ONU tinha aprovado as mais duras sanções económicas contra a Coreia do Norte, que proíbem cerca de um terço das exportações anuais do regime.

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À escalada retórica juntam-se os tradicionais exercícios militares conjuntos de Verão entre os EUA e a Coreia do Sul, iniciados a 21 de Agosto e que terminam no fim do mês. Este ano, foram mobilizados dezenas de milhares de soldados dos dois países que vão participar em exercícios em terra, no mar e no ar. O regime norte-coreano encara estas movimentações como ameaças à sua própria segurança – também a China e a Rússia demonstram desconforto com as manobras militares dos EUA na região – e é comum tomar acções como a desta terça-feira.

Pyongyang diz que os testes balísticos são justificados como medida de “autodefesa” do país perante a ameaça dos Estados Unidos. “Agora que os EUA declararam abertamente as suas intenções hostis em relação à República Popular Democrática da Coreia, intensificando os exercícios militares conjuntos agressivos, o meu país tem todas as razões para responder com contra-medidas duras, como forma de exercício dos seus direitos de autodefesa”, afirmou o embaixador norte-coreano na ONU, Han Tae-song, durante a Conferência para o Desarmamento, em Genebra.

Alguns analistas vêem a opção tomada por Pyongyang como uma forma de evitar um confronto directo com os EUA. “Se os norte-coreanos tivessem feito o teste perto de Guam, isso iria pôr muita pressão sobre Trump para que respondesse”, disse à BBC o professor da Universidade Nacional de Pusan, Robert Kelly. 

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