Dez anos depois da grande crise financeira, os riscos mantêm-se

Jack Lew, ex-secretário do Tesouro dos EUA e conselheiro de Barack Obama durante a crise financeira de 2008, discorda da desregulação do mercado defendida por Trump.

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Jack Lew considera que a regulação actual é adequada Reuters/YURI GRIPAS

Os riscos financeiros ainda são “substanciais” e há o perigo de a memória da crise financeira de 2007-2008 se desvanecer, abrindo portas a um retrocesso na regulação dos mercados, avisa Jack Lew, conselheiro de Barack Obama durante a crise financeira e posteriormente secretário do Tesouro. O alerta é feito num momento em que a Administração Trump pondera a revogação das leis aprovadas na sequência do colapso do sistema financeiro.

“Não devemos baixar a guarda num momento em que acabámos de sair da última crise financeira, mas em que ainda estamos num mundo com riscos financeiros substanciais”, alerta Jack Lew, do Partido Democrata, em declarações à BBC nesta quarta-feira. Para o antigo responsável pelas Finanças norte-americanas, a regulação financeira actual está no ponto certo: “Pessoalmente, acho que não devemos fazer mais do que estamos a fazer.”

Faz nesta quarta-feira dez anos que o banco francês BNP Paribas anunciou que ia fechar três fundos de investimento, impedindo que os subscritores efectuassem o resgate do seu dinheiro. Para muitos, este foi o momento zero da crise financeira que rebentou no ano seguinte, a mais importante desde a Grande Depressão, com consequências até aos dias de hoje.   

“Nunca vi uma situação em que a cada dia os números tornavam-se muito piores do que no dia anterior e em que tínhamos de estar constantemente a rever o estímulo fiscal necessário para gerar uma recuperação da economia”, recordou Jack Lew. “Depois da crise, o que as nossas reformas de Wall Street fizeram, pela primeira vez após a Grande Depressão, foi dar-nos instrumentos para salvaguardar a evolução do sistema financeiro", defendeu.

O actual Presidente dos EUA, Donald Trump, considera que a regulação financeira em vigor é demasiado onerosa, recorda a BBC News. Trump pede o estudo e um debate sobre a eventual revogação das leias aprovadas na era Obama. “Temo que, à medida que a memória se desvaneça, ideias menos boas sobre a regulação financeira comecem a vir ao de cima, como se há dez anos aquilo que estava em risco não fosse suficientemente importante”, advoga, por sua vez, Jack Lew.

E avisa: “É pouco provável que as ameaças futuras surjam nos mesmo sítios que no passado. Todos sabemos que vai haver crises no futuro, o que não sabemos é quando e como é que elas vão ocorrer."

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