Mais de 70% dos depósitos pagaram juros abaixo de 0,5%
Dados do Banco de Portugal relativos a 2016 mostram uma queda nos depósitos indexados disponibilizados pela banca aos balcões.
Que as taxas de remuneração dos depósitos têm vindo a cair não é novidade, mas que, em 2016, 72% dessas aplicações já pagaram menos de 0,5% brutos, dá uma imagem mais completa deste fenómeno. Ou posto de outra forma, apenas 10% dos depósitos simples (não estão indexados a outros variáveis) pagaram mais de 1% de TANB, a Taxa Anual Nominal Bruta, ou seja, sem impostos.
Os dados são do Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Retalho de 2016, divulgado esta quinta-feira pelo Banco de Portugal, que mostram que no final do ano, 90% dos depósitos para o público em geral apresentavam uma TANB inferior 1% (86%, no final de 2015) e 72% tinham uma TANB inferior a 0,5%. A variação face ao ano anterior é relevante, uma vez que em, em Dezembro de 2015, a percentagem de depósitos abaixo de 0,5% era de 57%.
A oferta de depósitos continuou a concentrar-se em maturidades mais curtas, até um ano. Estes depósitos corresponderam a 83,5% dos depósitos simples para o público em geral, proporção semelhante à verificada em 2015. Verificou-se menor exigência no que se refere a montantes mínimos de constituição e há maior flexibilização na mobilização antecipada.
Os depósitos comercializados em exclusivo nos canais digitais caracterizaram-se por terem prazos mais reduzidos, montantes mínimos de constituição menos exigentes e por possibilitarem a mobilização antecipada mais frequentemente do que a restante oferta. Curioso que estes depósitos apresentavam, em média, uma taxa de remuneração inferior à da restante oferta para o público em geral, em todos os prazos.
Depósitos indexados em queda
Depois de um crescimento muito significativo nos últimos anos, o mercado dos depósitos indexados e duais (com remuneração associada a outros produtos) registou a primeira queda desde 2012, tanto no número de depósitos comercializados pelas instituições de crédito, como no número de depositantes e montantes aplicados.
O relatório revela que, em 2016, foram comercializados 179 depósitos indexados e duais (menos 22,5% face a 2015), por 11 instituições de crédito (menos cinco que em 2015).
No ano passado, foram aplicados em depósitos indexados e duais cerca de 3143,5 milhões de euros, por cerca de 183 mil depositantes, o que corresponde a decréscimos de 42,9% e 42,5%, face a 2015, respectivamente.
No final do ano, o montante total aplicado neste tipo de depósitos era de 8865,7 milhões de euros, o que compara com 10.402,3 milhões de euros, no final de 2015 (menos 14,8%).
Esta queda traduziu-se numa diminuição do peso relativo dos depósitos indexados e duais no montante total aplicado por clientes bancários particulares em depósitos a prazo, que representava 10,2% em 2015 e caiu para 9,2% em 2016.
A queda é explicada pela redução dos depósitos indexados, uma vez que se verificou um aumento dos depósitos duais. Foram comercializados 161 depósitos indexados (menos 25,1% do que em 2015), e 18 depósitos duais, mais dois do que em 2015.
A evolução do mercado accionista continuou a ser o indexante mais frequente nos depósitos indexados e nas componentes indexadas dos depósitos duais constituídos, apesar do seu peso relativo ter diminuído face ao ano anterior.
O relatório mostra que, em 2016, venceram-se 214 depósitos indexados e duais, dos quais 187 depósitos indexados e 27 componentes (17 simples e dez indexadas) de 26 depósitos duais. Dos depósitos indexados vencidos no ano passado, 28,4% pagaram uma taxa de remuneração superior aos depósitos simples para o mesmo prazo e 54,8% apresentaram uma taxa superior à taxa de referência do mercado interbancário, observada na respectiva data de constituição do depósito. Adicionalmente, dos 197 depósitos indexados vencidos, 144 pagaram a taxa de remuneração mínima prevista no prospecto informativo, dos quais 63 tiveram uma TANB nula. Em contrapartida, 17 depósitos indexados vencidos pagaram a TANB máxima prevista do prospecto informativo.