É um elevador que funciona como um comboio magnético na vertical

Não precisa de cabos e desloca-se na horizontal e na vertical. Apresentado na Alemanha, o Multi é uma tecnologia inovadora em relação aos elevadores tradicionais e permitirá aumentar a área útil dos edifícios, dando largas à imaginação de arquitectos e engenheiros na construção dos arranha-céus.

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No poço de ensaios do elevador magnético Christian Engels

O elevador Multi é como o Transrapid, o comboio que não toca nos carris porque funciona dentro de um campo electromagnético. Por isso, prescinde de cabos para o içar ou fazer descer e não necessita também de uma “casa das máquinas” porque o motor é distribuído ao longo do seu percurso, o qual tanto pode ser horizontal como vertical.

Para provar que isto já não é ficção científica, a thyssenkrupp apresentou este elevador a funcionar numa torre de 246 metros no final da semana passada, em Rottweil, na Alemanha. E apresentou também um cliente. O primeiro comprador deste sistema é a holandesa OVG Real Estate, especializada em construir edifícios sustentáveis e inovadores, que vai instalar o Multi em Berlim. Trata-se da Torre Leste, de 160 metros, que será um dos edifícios mais icónicos da capital alemã.

Coen van Oostrom, presidente daquela empresa, contou que se orgulhava de fazer os edifícios mais altos do Benelux, mas que um encontro com Al Gore num fórum nos EUA fê-lo mudar a maneira de pensar, passando a conceber projectos sustentáveis e energeticamente viáveis. E foi nessa mudança de paradigma que viu o quão inovador poderiam ser estes elevadores que lhe permitem poupar espaço nos edifícios. “Deixamos de fazer edifícios tão altos porque acabam por ser todos como os Donuts – com um buraco no meio – e podemos agora desenhar soluções bastante diferentes graças ao Multi”, disse.

Luís Ramos, director da comunicação da thyssenkrupp explicou que um dos grandes obstáculos à construção em altura é que quase metade da área é ocupada pelos poços dos elevadores e pelos pesados equipamentos que eles comportam. O elevador magnético – constituído por ímanes, ou magnetos, sendo desta forma impulsionado pelas forças atractivas e repulsivas do magnetismo – só precisa de metade do espaço de um ascensor convencional, pelo que os edifícios ganharão assim 25% da área. E como nas megacidades o metro quadrado de área atinge preços tão elevados, o Multi vai mudar o modelo de negócios das empresas imobiliárias e construtoras ao permitir aumentar o espaço disponível.

“As cidades hoje em dia são tão densas, que qualquer espaço que se consiga dar ao edifício vale ouro”, disse este responsável. Naturalmente, o novo elevador é mais caro do que os outros (o valor do negócio com a OVG Real Estate não foi divulgado), mas Luís Ramos diz que as vantagens no espaço ganho compensam claramente o acréscimo do preço.

O grupo alemão diz que já tem várias demonstrações de interesse de mais empresas e que espera rapidamente exportar estes elevadores para o Médio Oriente, China e EUA. “O cliente-tipo é um promotor civil, é normalmente uma empresa que desenvolve edifícios e que tem preocupações de sustentabilidade”, disse Luís Ramos.

Mercado parece não faltar, como o próprio presidente da thyssenkrupp, Andreas Schierenbeck, recordou. Em cada dia há mais 87,5 quilómetros quadrados de espaço urbano no planeta, o equivalente a uma nova Manhattan. E desde 2000 os edifícios mais altos cresceram três vezes mais, de uma média de 200 metros de altura para os actuais 600 metros. Mais: enquanto nos anos 60 se construía por ano um ou dois arranha-céus (prédios com um mínimo de 200 metros de altura), só em 2016 foram construídos no mundo 128.

Para além dos 500 metros de altura, o peso dos cabos que seguram os elevadores é tão grande que se torna mais fácil fazer outros poços, pelo que, em muitos edifícios, é preciso mudar de ascensor mais do que uma vez para se chegar ao topo. A torre mais alta do mundo, a Burj Khalifa, com 829 metros, necessita de três elevadores rápidos para se chegar ao topo, além de vários poços para outros elevadores que servem as “paragens intermédias”. O Multi, explicou Andreas Schierenbeck, resolve esses problemas, pois no mesmo poço podem circular várias caixas que também se podem mover na horizontal, criando-se assim uma espécie de “metro de elevadores” dentro do arranha-céus.

A Torre de Rottweil

A pacata cidade de Rottweil, que mantém ainda a sua aparência medieval porque escapou aos bombardeamentos da II Grande Guerra, é conhecida pela famosa raça de cães que aqui começaram a ser criados e também por ser a cidade das torres, devido às muitas igrejas.

Nada faria prever que fosse neste ambiente rural que a multinacional alemã Thyssen decidisse construir uma torre de ensaios com 246 metros a fim de testar a tecnologia Multi e os outros elevadores. Mas o município agradeceu porque com ela veio a instalação, na própria torre, de um centro tecnológico com 80 engenheiros que vieram deslocados das instalações da thyssenkrupp em Estugarda. E houve outra razão: a torre, que ainda não está totalmente concluída, terá no cimo um piso panorâmico para o qual se esperam cerca de 100 mil visitantes por ano.

Mas o motivo pelo qual a empresa investiu 40 milhões de euros na sua construção prende-se com a investigação e desenvolvimento dos seus projectos. Por exemplo, instalou nela um pêndulo com 240 toneladas, que, quando activado, faz o edifício oscilar até meio metro para cada lado. Objectivo: medir o comportamento dos cabos de aço dos elevadores em edifícios que oscilam devido ao vento.

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Poço de ensaios de elevadores convencionais na Torre de Rottweil Christian Engels

A proximidade de três grandes universidades de engenharia num raio de 100 quilómetros – Munique, Estugarda e Saint Gallen (Suíça) – foi outro dos motivos para instalar este centro de investigação em Rottweil. A thyssenkrupp tem ainda mais três centros destes, em Gijón, Xangai e Atlanta.

“Temos uma estratégia deliberada de liderar o mercado mundial dos elevadores no futuro e vamos fazê-lo por via da inovação em soluções há muito procuradas por quem desenha, constrói e gera edifícios, ou seja, vamos transformar o próprio mercado”, diz Luís Ramos.

Nos últimos três anos este grupo alemão já gastou 200 milhões de euros em investigação, o que representa, apesar de tudo, uma percentagem ínfima dos 7500 milhões de euros que facturou no ano passado. Um mercado que à escala global é um oligopólio, liderado pela Otis, com 18% de quota de mercado, e seguido de muito perto pelas restantes Kone, thyssenkrupp e Schindler (cada uma delas em torno dos 14%).

 

O PÚBLICO viajou a convite da thyssenkrupp

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