Conceito "chave na mão" da Viriato conquista hotéis de luxo

O conceito "chave na mão" da Viriato Hotel Concept conquista hotéis de luxo de todo mundo para onde exporta 95% dos seus móveis. Argélia, Marrocos, Costa do Marfim e Dubai constam da lista do grupo que superou a queda do BES.

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A fábrica de Paredes fornece hóteis de todo o mundo.
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O economista João Martins foi escolhido pelos credores da empresa.

É uma marca portuguesa, a Viriato Hotel Concept, de Paredes, que está presente nas mais luxuosas cadeias hoteleiras do mundo, com o seu inovador conceito "chave na mão". Não só mobila como trata de toda a decoração, desde a iluminação à colocação de papel de parede e cortinados, incluindo as áreas comuns de hotéis como o Marriot, Sheraton, Meridien e Hilton. “É este serviço que nos distingue e torna competitivos no estrangeiro. Em Portugal somos os únicos a fazê-lo”, assegura o CEO da empresa, João Martins.

Este conceito "chave na mão", acredita o gestor, “já faz parte do ADN da empresa” que na semana passada comemorou 65 anos com uma exposição e o lançamento de um livro que conta a sua história. Mas tudo começa com o processo de planeamento antes da produção dos móveis. “É neste trabalho de preparação que está o nosso segredo”, realça o economista João Martins, nomeado gestor pelos credores da empresa - o maior é o Novo Banco -, na sequência do processo de restruturação da dívida que decorre desde 2015.

Só por ano, a Viriato equipa, por completo, 50 hotéis, grande parte em África; o que se traduz em 12.500 quartos anuais. Nas últimas duas décadas, já mobilou mais de 400 unidades das cadeias Marriot, Sheraton, Meridien, Intercontinental, Hilton, Pestana, Club Med e Mandarin. “É líder nacional e um dos players internacionais do sector”, realça João Martins. E prepara-se para reforçar com mais cinco funcionários os actuais 114 postos de trabalho.

Quando chega a proposta dos arquitectos e designers responsáveis pelo projecto dos hotéis, explica, “cotamos o caderno de encargos, damos preços. E o departamento criativo também apresenta alternativas aos objectos propostos”. Caso o cliente dê luz verde à proposta de orçamento, o projecto segue para o departamento técnico e de planeamento. Por aqui há salas com amostras de tecidos em cabides e em dossiers para estofos de sofás e cortinados de quartos, ou dos espaços públicos dos hotéis.

As maquetas avançam depois para a unidade fabril, no piso inferior. Uma funcionária conduz uma empilhadeira nos corredores por entre os colegas de trabalho que se dividem em tarefas na linha de produção. Há madeiras empilhadas no circuito de entrada das matérias-primas que entram no processo de corte. Há serrim espalhado pelo chão e, mais à frente, um intenso cheiro a verniz. As peças já passaram pela pintura antes disso. Segue-se a assemblagem, o controlo de qualidade e o embalamento no armazém, onde estão artigos de decoração prontos para seguirem para o hotel. Não há restos de stocks, porque a empresa só os faz por encomenda.

“Não há projectos iguais e não trabalhamos por catálogo”, explica João Martins. É o que distingue a Viriato Hotel Concept da concorrência, assim como a capacidade de produzir o mobiliário e de apresentar soluções completas de decoração, muitas delas desenhadas no departamento criativo e mandadas produzir em parceiros. Outras são subcontratadas directamente, como os colchões. As equipas vão depois instalar tudo nos hotéis. “Em dois ou três meses temos o hotel pronto”, afirma. “Só assim conseguimos ter connosco hotéis como o Meridien e o Ritz que nos dão 400 quartos para orçamentar.”

Este sucesso reflectiu-se, em 2016, num volume de negócios na ordem dos 17 milhões de euros, prevendo atingir os 25 milhões este ano. E duplicar para 50 milhões de euros dentro de cinco anos. Por essa altura, a previsão é também que o mercado africano represente um peso de 65% nas exportações contra os 40% actuais. Argélia, Marrocos e Costa do Marfim são os “pratos fortes”. A Europa, com a França e os países nórdicos na liderança, representa 30% e Portugal uma fatia de 10% das vendas. “Em África fazemos hotéis novos, já na Europa fazemos reformulação de hotéis.”

Entre 2010 e 2013, as encomendas e o volume de negócios caíram para 13 milhões de euros “por consequência da crise internacional de 2008”, refere o gestor. O que levou, em 2014, ao início da negociação  da dívida da Viriato com a banca, sendo o Novo Banco o principal credor. Dívida que João Martins se escusa a dizer o valor. Também recusa falar em processo de recuperação, porque, assegura, “a reestruturação decorre sem recurso a um Processo Especial de Revitalização (PER).” A reestruturação financeira da Viriato arrancou em 2015 com “um reforço dos capitais permanentes, transformando a dívida de curto prazo em médio prazo, acrescendo uma redução da função financeira”. O plano de amortização é de dez anos; faltam oito e “a empresa está a cumprir o acordo”. Mas as acções continuam na família Rocha.

João Martins diz-se ainda tranquilo com a venda do Novo Banco que acredita “não afectar o desempenho da empresa e nem sequer as relações desta com o banco”. Mais: “Não prevejo qualquer dificuldade, porque a direcção do Novo Banco sempre acreditou na marca”. E assegura que nem sequer os problemas no BES e consequente alteração para Novo Banco afectaram a Viriato.

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