O país "anestesiado" e a Europa que não dá "o salto"

Debate juntou duas ex-ministras do PS e do PSD. Maria Luís Albuquerque diz que pior do que um novo resgate "é precisar e não o ter".

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Nuno Ferreira Santos
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Se havia assunto sobre o qual era possível identificar um “centrão” político, em Portugal, esse seria o consenso dos maiores partidos sobre a Europa. Duas mulheres, uma do PS, outra do PSD, mostram que isso não é bem assim. Maria João Rodrigues e Maria Luís Albuquerque divergem, muito, sem recorrer aos estafados artifícios que agora são comuns no debate político corrente. O tom é cordial e calmo. De vez em quando, uma diz que concorda com a outra (para logo discordar, mas isso é um artifício mais educado que as pateadas).

Há, desde logo, uma clivagem profunda. Maria João é optimista. Acredita que a Europa precisa de “dar o salto”. Maria Luís é pessimista. Está convicta de que é preciso “fazer com que as expectativas se adeqúem à realidade”.

O tema era esse mesmo: Portugal e a Europa, e o debate insere-se no ciclo Olhares cruzados sobre Portugal, organizado pelo PÚBLICO e pela Católica Porto Business School. Duas ex-ministras, sentadas no palco do auditório da EDP, em Lisboa, com a moderação de António Lobo Xavier, enquanto na plateia outros ex-ministros, como Jorge Braga de Macedo e Eduardo Catroga, ouviam e comentavam. 

Das duas, Maria Luís Albuquerque foi a que mais animada se mostrou a comentar a situação interna: “Há muito de ilusório na forma como as coisas estão a correr. A nossa situação continua a ser de grande fragilidade (...) O país está muito mais que relaxado, está anestesiado.”

A ex-ministra das Finanças chegou a recordar os tempos em que Portugal era apontado como exemplo em Bruxelas. “Um país do sul que consegue ultrapassar a crise é um trunfo contra o preconceito. Quase que andavam connosco ao colo...” Braga de Macedo voltaria ao tema, da plateia, revelando alguma nostalgia: “Nós sermos bons alunos é uma coisa de que tenho saudades...”

Mas não é aqui que o pessimismo se revela. Enquanto Maria João Rodrigues lançou o debate com uma proposta de reforma da Europa – da criação de um sistema comum de defesa à alteração das regras em matéria económica e monetária – a sua parceira optou por uma abordagem diferente. “As expectativas deixaram de ter adesão à realidade”, começou por dizer. A Europa “não se preparou” e, agora, olha para o Mundo pelos olhos de uma “população envelhecida, avessa ao risco, que não inova e torna-se menos competitiva”, garante a deputada do PSD.

Foi então que surgiu a ideia – que Lobo Xavier anotou – de “fazer com que as expectativas se adeqúem à realidade das mudanças”. Para exemplificar o que queria dizer, Albuquerque deu um exemplo: “Não se consegue discutir a sério a reforma da segurança social.”

Lobo Xavier voltou à carga adiante. “Como é possível conquistar votos com o projecto político de adequar as expectativas das pessoas?” A ex-ministra das Finanças diz que tem de ser assim, e sublinhou que foi com esse discurso que a sua coligação (PSD e CDS) ganhou as últimas legislativas.

Maria João Rodrigues prefere outra gestão de expectativas. Se a questão é a dos limites do que é possível, em vez de baixar expectativas prefere “aumentar os limites do possível”. E também tinha exemplos para dar: por exemplo, a forma como já mudaram as regras de avaliação das célebres “reformas estruturais”, que já incluem outros parâmetros, como a educação, além da inevitável legislação laboral.

Para Maria Luís Albuquerque o maior risco para Portugal não é ter um novo resgate, “é precisar e não ter”. Para Maria João Rodrigues o risco principal é o tempo de “navegação à vista” na Europa, que se avizinha com as eleições em França e na Alemanha. E esta foi, afinal, a grande diferença. Maria Luís Albuquerque acredita que Portugal “pode resolver os seus problemas”. Maria João Rodrigues acredita que a Europa tem um papel fundamental nessa resolução.

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