Reserva Federal dos EUA volta a subir taxas de juro

É a terceira vez numa década, e a segunda desde a eleição de Trump, que a Fed aumenta as taxas. Recuperação da economia permite actualização, justifica Yellen.

Foto
Janet Yellen na conferência de imprensa desta quarta-feira em Washington Reuters/YURI GRIPAS

A generalidade dos analistas estava à espera de ver a Reserva Federal norte-americana (Fed) anunciar nesta quarta-feira uma subida das taxas de juro de referência e assim foi: indo ao encontro das apostas dos mercados, o banco central liderado por Janet Yellen decidiu colocar a principal taxa (dos fundos federais) num intervalo entre 0,75% e 1%.

Com esta decisão, amplamente antecipada entre economistas que acompanham as orientações de política monetária da Fed, Yellen dá força à ideia de recuperação das condições do mercado de trabalho e do nível da inflação – estas são, aliás, as razões com que o comité federal justifica a actualização das taxas.

Entre os economistas que são ouvidos nos inquéritos de opinião quanto às expectativas em relação às decisões que a Fed vai tomar, o cenário de subida das taxas já era dado como praticamente certo, tanto mais depois de esta semana ter surgido mais um dado positivo no mercado de trabalho, com a notícia da criação de 235 mil novos postos de trabalho em Fevereiro.

É a terceira vez numa década, e a segunda vez desde a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, que a Fed sobe a sua principal taxa de juro de referência, mas as indicações de que essa trajectória seria seguida foi dada ainda antes, face aos sinais de recuperação mais robusta da economia e de melhoria da confiança dos consumidores e empresas.

A primeira actualização aconteceu em Dezembro de 2015, depois de um longo período em que as taxas estiveram coladas a zero (desde 2008). Depois dessa inversão, só um ano mais tarde a Reserva voltou a fazer uma nova subida, colocando taxa de referência entre os 0,5% e os 0,75% em Dezembro de 2016. Nessa altura, apontava para três actualizações em 2017. A primeira já aconteceu, continuando a institução a prever subidas progressivas.

É um “ligeiro aumento”, salientou Janet Yellen em Washington, ao fim de dois dias de reunião de política monetária, considerando que a subida é apropriada face ao “progresso sólido da economia”. Questionada sobre que sinal está a dar aos consumidores com esta nova subida, respondeu que a decisão é um sinal de que “a economia está a ir bem”.

A Fed antecipa em comunicado que “a actividade económica irá expandir-se a um ritmo moderado, as condições do mercado de trabalho vão reforçar-se um pouco mais, e a inflação irá estabilizar à volta de 2% no médio prazo”. E por isso prevê que as condições económicas evoluam de forma a justificar “aumentos graduais da taxa dos fundos federais”, embora a perspectiva seja a de que este valor de referência ainda continue “durante algum tempo abaixo dos níveis que deverão prevalecer no longo prazo”. Mas mesmo depois deste aumento, defende o banco central, “a política monetária continua a ser acomodatícia, apoiando assim [o objectivo de] uma recuperação mais forte do mercado de trabalho e um regresso sustentado da inflação a 2%”.

O New York Times sublinhava o facto de o diagnóstico da Fed sobre as condições económicas não ser tão optimista quanto as perspectivas do Presidente Donald Trump. E na conferência de imprensa, Janet Yellen referiu que se forem tomadas medidas para acelerar o crescimento, elas serão bem-vindas e a Fed olhará para essa realidade.

Para já, a decisão desta quarta-feira levou a uma aceleração dos ganhos em Wall Street, a uma descida das taxas de juro da dívida dos Estados Unidos a cinco e dez anos, e a um recuo mais acentuado do dólar.

Se neste momento a Fed está já numa fase de subida de taxas, na Europa o Banco Central Europeu veio na semana passada manter os seus valores de referências inalterados. E embora retirado do seu comunicado oficial a referência à possibilidade de o banco central usar todos os instrumentos de que dispõe para lançar mais estímulos económicos, reafirmou o compromisso com o programa de compra de activos financeiros, que em Abril terá já uma redução do nível de compras mensais.

Sugerir correcção
Comentar