António Costa: “Não temos o direito de desistir da Europa”

O pensamento das esquerdas, resumido pela bloquista Catarina Martins: já “ninguém leva a sério o renascimento da Europa”.

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António Costa nesta quarta-feira no Parlamento LUSA/MÁRIO CRUZ

Aos partidos de esquerda que o apoiam no Parlamento, o primeiro-ministro deixou clara a sua visão: “Hoje não temos o direito de desistir da Europa”. A frase foi dita esta manhã no debate de preparação do Conselho Europeu e em causa estavam as já conhecidas divergências sobre o futuro da União Europeia. Aos deputados do Bloco de Esquerda e do PCP, que não acreditam num “renascimento” do projecto europeu, o primeiro-ministro responde que não houve, nos últimos tempos e num "continente durante séculos dividido pela guerra”, construção mais importante do que o projecto europeu.

No hemiciclo, os deputados debateram questões relacionadas com o Livro Branco sobre o futuro da Europa, as políticas de defesa, o cenário de uma União com várias velocidades, defendido pelo núcleo duro da União Europeia. Trata-se da preparação do próximo Conselho Europeu, na quinta e sexta-feira, o primeiro depois de o presidente da Comissão Europeia ter apresentado o Livro Branco com cinco cenários de discussão sobre o futuro da União Europeia.

Sobre o polémico ponto de uma Europa a várias velocidades, António Costa, embora não concordando a 100 por cento, explicou que pode ser um caminho para que o projecto não esteja sempre a enfrentar bloqueios: se os Estados-membros não querem sempre avançar todos ao mesmo tempo em todas as questões, ou se possibilita uma geometria coerente no seio da União Europeia que abra uma porta aos que querem avançar, ou o projecto fica num “bloqueio”.

Costa repetiu várias vezes aos parlamentares, entre os quais muitos cépticos sobre o futuro da Europa: “Recuso-me a conformar-me com a ideia de que a Europa está condenada.” Costa fez questão, porém, de defender que não é possível avançar “com novas ambições”, por exemplo na área da defesa, sem resolver primeiro “o grande elefante na sala” que é a União Económica e Monetária – neste ponto, salientou a importância de completar a União Bancária, sendo, para isso, necessário um fundo de garantia de depósitos. O primeiro-ministro garantiu ainda que Portugal não pretende passar um “cheque em branco ao Livro Branco”, o que quer é estar do lado das reformas necessárias para que a Europa volte a ser um espaço de paz e de prosperidade, disse.

A deputada bloquista Catarina Martins foi uma das vozes da esquerda que resumiu o pensamento céptico destas bancadas quanto ao futuro da Europa: “Sr. primeiro-ministro, de facto ninguém leva a sério as promessas de renascimento da Europa”, disse, considerando caricato que, dentro do próprio Governo, haja quem defenda que não pode haver uma Europa com diferentes velocidades e quem entenda o contrário. Uma mensagem para o ministro das Finanças e para o primeiro-ministro que a esclareceu depois. A bloquista insistiu sobre o que considerou serem “contradições” que representam “o anúncio da Europa da divergência”: “já ninguém leva a sério o renascimento da Europa.”

E faltavam ainda as críticas ao euro: para Catarina Martins, o que o euro ensinou é que “querer dar passos maiores do que a perna não é avançar mais depressa, é espalharmo-nos ao comprido”. À voz da bloquista juntou-se a do comunista João Oliveira que também não concorda com a manutenção do euro nem com a ideia de uma Europa a várias velocidades. O PCP há muito que insiste na “libertação de Portugal do euro e na recuperação da soberania” (começa no dia 9 uma campanha nacional sobre esse assunto). E também a direita, pela voz de Miguel Morgado, do PSD, se referiu à ideia de uma Europa a várias velocidades, frisando que ela já existe, mas defendendo que deve levar à unidade e não à fragmentação.

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