Governo angolano reconhece “irregularidade” no fecho de colégio turco

Ministro do Interior diz que tem a "humildade de pedir desculpas" aos pais e alunos, indignados com fecho repentino de escola na sexta-feira, seis dias depois do arranque do ano lectivo.

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Tchissola Figueiredo protesta contra fecho do colégio turco em Luanda

O ministro do Interior angolano, Ângelo da Veiga Tavares, reconheceu “alguma irregularidade” no encerramento do colégio turco em Luanda, na sexta-feira passada, seis dias depois do arranque do ano lectivo. Segundo a Lusa, Tavares justificou o encerramento do Colégio Esperança Internacional por questões de “bastante gravidade” e afastou “quaisquer pressões” de “qualquer país”. Disse que o posicionamento do governo “tem a ver com questões de natureza factual”.

Porém, “a forma como foi feito o processo feriu de alguma irregularidade e causou toda essa reacção”. Disse: “Temos a humildade de publicamente pedir desculpas aos pais e aos alunos na certeza de que tudo está ser feito para que os alunos não sejam prejudicados”. Antes, os pais dos alunos tinham exigido um pedido de desculpas público pelo encerramento da escola e por não terem sido informados da venda do colégio, noticiou a Rede Angola. 

O jornal O País disse que dois professores “estão a ser julgados no Tribunal Provincial de Luanda, desde Janeiro, por actividades associadas ao financiamento ao terrorismo internacional e branqueamento de capitais” .

Recentemente, uma jovem estudante do colégio turco, Tchissola Figueiredo, colocou um vídeo no seu Facebook a contar o que tinha acontecido e a apelar ao Governo que volte atrás. "Vamos perder pelo menos um mês de aulas”, lamentou Tchissola Figueiredo ao PÚBLICO.

No vídeo, que rapidamente foi partilhado milhares de vezes, a jovem de 17 anos descrevia que “representantes do Ministério da Educação e do SME (Serviço de Migrações e Fronteira) apareceram na escola, chegaram e interromperam as aulas. Houve um grande alarido”, conta. Os professores “fizeram uma fileira e estavam rodeados da polícia”, continua. No encerramento, foram “violentos”, “e em frente de crianças”, acusou. “Também estou muito chateada pela forma como humilharam os professores na minha frente”, disse.

A escola fechou por ordem de um despacho do Ministro da Educação, Pinda Simão, de 7 de Fevereiro. O despacho manda a entrega de toda “a documentação fundamental da instituição” ao Gabinete Provincial de Educação de Luanda no prazo de oito dias: documentos legais, processos individuais dos alunos, contratos e registos do corpo docente.

Já em Outubro de 2016, o Presidente da República José Eduardo dos Santos tinha ordenado o fecho do colégio justificando-o com a “necessidade de se garantir o bem-estar e a segurança dos cidadãos num clima de paz e harmonia social”, “sem quaisquer divisionismos susceptíveis de atentar contra a unidade e a integridade territorial”. O despacho presidencial, a que o PÚBLICO teve acesso, ordenava o cancelamento dos vistos dos docentes e funcionários “obtidos por via do colégio” e que os “seus utentes sejam administrativamente expulsos do país”. Além disso, “as instalações e o património dos órgãos referidos ficam sob custódia do Ministério do Interior”. 

Quando fechou, foram referidas as ligações do colégio ao movimento de Fethullah Gülen, acusado pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de ser responsável pela tentativa de golpe de Estado de 15 de Julho de 2016, na Turquia. Na Nigéria, em Julho, o embaixador turco tinha pedido ao Governo que encerrasse 17 escolas ligadas a Gülen. Segundo a jovem, a escola, com a maioria de professores turcos e onde as aulas são dadas em inglês, não faz "parte deste movimento.”

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