Algarve não quer ficar a ver passar os aviões… para Lisboa

O aeroporto de Faro, ensanduichado entre a cidade e a ria Formosa, não tem por onde se expandir

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PAULO PIMENTA

O crescimento que o turismo está a ter “obriga a pensar em voos mais altos no que diz respeito a infra-estruturas aeroportuárias”, defende o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), lembrando que o aeroporto de Faro “tem os dias contados” quando se pensa em expansão. As obras em curso — ampliação do terminal — vão conferir-lhe uma capacidade que lhe permite, em 2017, subir dos seis para os oito milhões de passageiros por ano. A empresa Aeroportos de Portugal — ANA revelou, entretanto, que espera atingir já em 2016 os 7,5 milhões de passageiros, registando, em relação ao ano anterior, um aumento de 17% no número de passageiros. “Não é só Lisboa que está a receber mais turistas, o Algarve continua a ser um destino de eleição”, sublinha o dirigente empresarial, defendendo que é necessário “ter uma ideia de futuro, com projectos e investimento”, criando as condições para a sustentabilidade do sector.

O presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), Desidério Silva, manifesta uma opinião contrária. “Não se justifica, nos tempos próximos, a construção de um novo aeroporto”. De momento, a obra mais urgente, destaca, é “concluir os trabalhos de requalificação da Estrada Nacional (EN) 125)”, interrompidos no início do Verão, e ainda não retomados. “Chega a Primavera de 2017 e, pelo que estou a ver, vai tudo continuar na mesma”, critica. Neste domínio Elidérico Viegas concorda com o representante oficial da secretaria de Estado do Turismo, no que diz respeito à rodovia, mas vai mais longe. “O troço da EN 125 entre Olhão e Vila Real de Stº António, ao contrário do que estava previsto, não vai ter qualquer melhoria — não se percebe o que se está a passar em termos de políticas regionais”, enfatiza. Por um lado, diz, o Governo afirma que este é o sector “estratégico para o desenvolvimento do país, mas, por outro, não cria condições para que a actividade se afirme".

O aeroporto de Faro, em termos genéricos, funciona como barómetro da evolução do mercado turístico na região. As previsões da ANA para 2016 fundamentam-se no sucesso que teve com o aumento do número de rotas (nove) no período de Inverno, ganhando especial significado o mercado francês, que mais que duplicou — em relação ao mesmo período do ano passado registou um aumento de 105%. “Estamos a ir pelo bom caminho”, observa Desidério Silva, acrescentando, no entanto, que “não é prioritário” construir um novo aeroporto, apesar do actual ter apenas uma pista e estar bloqueado em termos de crescimento por condicionalismos ambientais — situa-se na zona do Parque Natural da ria Formosa. “A estratégia do Algarve passa por esbater a sazonalidade e aí ainda há muito espaço para crescer”.

Por seu lado, Elidérico Viegas lembra que período que vai entre a decisão de construir um novo aeroporto e a inauguração da obra oscila entre os 15 a 20 anos. Nesse sentido, acha que o assunto já devia estar na agenda política. “O Algarve devia pensar na construção de um novo aeroporto, verdadeiramente internacional, na zona central do Algarve”, adianta, justificando com o facto da actual infra-estrutura se encontrar ensanduichada entre a cidade e a ria Formosa. “Não tem hipótese de crescimento”. O aeroporto de Beja, comenta, “pode ser complementar, mas não é alternativa porque está a mais de 100 quilómetros de distância”.

No que diz respeito à localização, Elidérico Viegas sugere que deveria ficar no espaço do barrocal, na zona entre Loulé e Silves. De resto, sublinha, foi esse o primeiro sítio escolhido para o aeroporto de Faro, há mais de meio século. “Nos terrenos do meu avô, em Paderne, chegaram a estar espetadas estacas para o levantamento topográfico”, revela.

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