Mesmo com a ajuda russa a Assad, Daesh mantém controlo de Palmira

Entre anúncios contraditórios das duas forças que se enfrentam na histórica cidade síria, os combatentes do autoproclamado Estado Islâmico manterão mesmo a posse de Palmira, enquanto as forças sírias e russas tentam desalojá-los.

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Imagem retirada de um vídeo divulgado pelo Daesh, mostrando militantes islâmicos em Palmira, junto a silos em chamas Reuters/REUTERS TV

O Daesh parece ter reconquistado Palmira após dias de intensos combates nos arredores da cidade histórica terem obrigado as forças militares sírias a recuar.

Segundo um canal noticioso controlado pelo Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, retomou a posse plena de Palmira este domingo, um cenário confirmado pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma organização baseada em Londres que se opõe ao governo de Bashar-al-Assad e que já no sábado anunciara que os jihadistas “controlavam quase toda” a cidade.

“É uma catástrofe, estou em absoluto estado de choque”, disse Maamoun Abdelkarim, director-geral do património e dos museus, em declarações prestadas pelo telefone ao jornal britânico The Guardian. “Estou a perder a esperança, parece que perdemos a cidade”, admitiu ainda o responsável sírio.

O próprio governador da região síria de Homs, Talal Barazi, ao assegurar, em declarações prestadas este domingo à televisão estatal, que o exército estava a lutar para recuperar o controlo de Palmira, reconheceu implicitamente a perda da cidade. “O exército está a usar todos os meios para impedir que os terroristas permaneçam na cidade”, disse Talal Barazi.

Na manhã de domingo, tanto o Daesh como as forças sírias apoiadas pela Rússia foram reclamando vitória na luta pela cidade, com o Governo russo a afirmar que os seus bombardeamentos aéreos nocturnos tinham causado a morte a 300 jihadistas e ajudado a expulsar as forças do Daesh do centro da cidade. Mas uma agência noticiosa ligada ao chamado Estado Islâmico garantiu que este tinha retomado o controlo após uma breve retirada, cenário já confirmado pelo OSDH.

É a segunda vez que esta antiquíssima cidade, inscrita na lista do Património da Humanidade desde 1980, oásis onde paravam as caravanas que atravessavam o deserto sírio e encruzilhada de civilizações, é conquistada pelo Daesh. Em Maio de de 2015, os jihadistas entraram em Palmira após um prolongado cerco que acabou com a retirada em massa do exército sírio.

Nos dez meses em que teve o controle de Palmira, o Daesh, na sua lógica de destruir os vestígios de civilizações não islâmica, arrasou vários monumentos milenares – incluindo o templo de Baal-Shamin, uma das jóias arqueológicas da cidade –, e realizou uma série de execuções públicas, incluindo a do arqueólogo sírio que dirigia o património arqueológico de Palmira, Khaled al-Assad.

A cidade fora recapturada em Março pelas forças sírias, uma das derrotas mais pesadas sofridas pelo Daesh desde que a Rússia se envolveu no conflito apoiando o regime de Bashar-al-Assad. Mas os jihadistas regressaram com um ataque-surpresa lançado na quinta-feira, começando por se reapossar dos campos de petróleo próximos e avançando para uma base aérea usada pelas forças russas.

Após os ataques dos aviões russos, cerca de quatro mil combatentes do Daesh lançaram um novo ataque no domingo, aparentemente com sucesso. A agência russa Interfax, citando o comando das forças russas no terreno, diz que “apesar de pesadas perdas em homens e equipamentos, os terroristas estão a esforçar-se o mais possível por assegurar um bastião sólido no interior da cidade”.

Se as forças sírias e russas não conseguirem desalojar o Daesh e a tomada de Palmira se confirmar, será um revés importante para o governo de Assad, que festejou com pompa a sua recuperação, em Março. Moscovo até promoveu então um concerto ao ar livre no anfiteatro de Palmira, no qual o próprio Putin interveio via vídeo, para mostrar que a cidade estava segura, e que o devia à ajuda russa.

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