Primeiro estranha-se...

A coincidência das eleições legislativas e presidenciais, não só permitiu que este Governo visse a luz do dia, como, de uma penada, a eleição de Marcelo restaurou as virtualidades do nosso semipresidencialismo.

O Governo do PS constituído há um ano representou uma das maiores inovações na história da democracia portuguesa. Sem alterações no quadro formal de funcionamento das nossas instituições, ele ilustrou de forma surpreendente a resiliência do nosso sistema partidário. O acordo entre o PS, o PCP e o BE, mesmo que termine amanhã, o que não parece ser o caso, acabou com a inevitabilidade da dominância dos partidos de centro-direita na formação de governos. Mas talvez mais importante, foi o facto de esta solução governativa ter introduzido uma maior polarização esquerda-direita, sem dominância de partidos populistas ou anti-sistema.

Foi preciso a ameaça de continuidade do programa liberal de Passos Coelho, quando ganhou as eleições após quatro anos de programa de austeridade, para que a elite (convém sublinhar) do BE e do PCP se convencesse que o declínio do PS talvez não lhes fosse favorável em termos eleitorais e políticos. Se tiver algum sucesso, o que ainda não é certo, (todos) os partidos lhes vão ficar a dever alguma coisa, mesmo o PSD e o CDS, ainda encostados à ideia que os desafios populistas à direita são problemas dos outros.

Ironicamente, o “regular funcionamento das instituições” não poderia ser mais óbvio. A coincidência das eleições legislativas e presidenciais, não só permitiu que este Governo visse a luz do dia, como, de uma penada, a eleição de Marcelo restaurou as virtualidades do nosso semipresidencialismo. Mas não vale a pena iludir um ponto: a esquerda ainda está muito longe da rotinização de acordos que caracteriza a direita e isso vai pesar se o diabo vier de fora. 

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