O Clima em Marraquexe (COP22)
Esperemos que os novos ventos que sopram do Oeste não coloquem tudo a perder…
Terminou no passado dia 18 de novembro, a 22.ª Conferência do Clima que decorreu em Marraquexe, com o objetivo de definir regras para se concretizar o primeiro grande Acordo Mundial contra o aquecimento global, aprovado em Paris em dezembro de 2015.
O Acordo de Paris representa, indiscutivelmente, um marco histórico no combate às alterações climáticas, visando limitar o aumento da temperatura média global em bem menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais, determinante para a sustentabilidade ambiental do planeta e para dar um novo impulso à economia global, um dos maiores desafios, político, técnico e de sensatez que a Humanidade tem de enfrentar neste século.
Para que possa entrar em vigor em 2020 e ser juridicamente vinculativo, foram necessárias as ratificações dos três principais poluidores mundiais: China, EUA e União Europeia, respetivamente, com 28%, 16% e 10% de emissões de gases de efeito de estufa (GEE) entre diversos outros países, representando pelo menos 55% das emissões de GEE. Ao mesmo tempo, rompeu com a lógica de Quioto, que separava os países entre os que estavam obrigados a reduzir emissões por razões históricas (países desenvolvidos) e os em via de desenvolvimento.
O que esteve em discussão em Marraquexe.
Uma vez que os compromissos até agora assumidos são insuficientes para se atingir o patamar de aumento da temperatura global de 2ºC (o Programa das Nações Unidas prevê um aumento 2,9°C a 3,4°C) torna-se necessário e urgente:
- A indústria e os transportes terem de contribuir mais para a redução de GEE: de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), no conjunto, são responsáveis por 60% das emissões de CO2 entre 2015-50, pelo que necessitam: combustíveis alternativos, gestão eficiente e tecnologias de sequestro de carbono.
- Mais restrições para centrais de energia a carvão e gás: fornecem 63% da eletricidade mundial e geram 35% das emissões do setor de energia, pelo que a AIE pede políticas que “abatam” gradualmente estas centrais.
- Uma mudança estrutural de setores mais para menos intensivos em energia, através da eficiência energética. Na China, por ex., mais de dois terços do consumo evitado deveu-se a medidas de eficiência energética.
- Mecanismos de mercado: as reduções de emissões serão negociáveis ??(resultados de mitigação transferidos internacionalmente) e, sob um quadro adequado de contabilidade e transparência, poderão lançar as bases para um mercado internacional de CO2, pois é reconhecida a importância do preço do carbono como ferramenta para incentivar as atividades de redução de emissões. Financiamento para apoio a países em desenvolvimento (justiça ambiental) na luta contra as alterações climáticas (Fundo Climático Verde): os países desenvolvidos devem contribuir com fundos - 100 mil milhões de dólares por ano e a partir de 2020 e o montante deve aumentar progressivamente (já prometidos em 2009 na COP15 de Copenhaga). É preciso decidir agora quem vai pagar e de que forma.
- Transparência (verificação dos compromissos nacionais): foi criado um quadro de transparência comum a todos os países, que incluirá informações sobre emissões, sumidouros de carbono, adaptação, financiamento e transferência de tecnologia.
Em jeito de conclusão, podemos afirmar que foi unânime o entendimento de que a ameaça das alterações climáticas e as consequências que já se fazem sentir têm grande parte da solução negocial à escala internacional. Apesar de alguns recuos, a Proclamação de Ação de Marraquexe para o Clima e Desenvolvimento Sustentável, subscrita por todos os países presentes, é um documento inspirador, mas que se deve traduzir, desde já e de forma coerente, em ações relevantes. É de elogiar a definição de um roteiro rápido e claro para que a operacionalização do Acordo de Paris possa estar concluída em 2018. Esperemos que os novos ventos que sopram do Oeste não coloquem tudo a perder…
Professora da Católica Porto Business School, da Universidade Católica Portuguesa, no Porto