Rolling Stone condenada por difamação

Em causa está uma reportagem sobre uma alegada violação em grupo numa universidade norte-americana. Era tudo mentira.

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A casa da fraternidade Phi Kappa Psi, onde teria ocorrido a violação descrita pela reportagem da Rolling Stone AFP/JAY PAUL

O tribunal federal norte-americano da cidade de Charlottesville, na Virginia, costa Leste dos EUA, considerou que a revista Rolling Stone, o seu director e uma repórter difamaram uma administradora da Universidade da Virginia através de um reportagem intitulada  "Uma violação no campus". O trabalho foi publicado em 2014, mas posteriormente foi retirado. Nele se contava a história de uma aluna da Universidade da Virginia, identificada como "Jackie", que dizia ter sido violada por sete estudantes, membros da fraternidade Phi Kappa Psi, numa festa, em Setembro de 2012.

Após duas semanas de julgamento, que assentava numa denúncia judicial da administradora da Universidade da Virgínia, os dez membros do júri convocados, consideraram que a jornalista Sabrina Rubin Erdely, autora da reportagem, foi a responsável pela difamação e que actuou de forma danosa. A revista e o director foram considerados culpados pela difamação da administradora universitária Nicole Eramo, que exigia uma indemnização de cerca de sete milhões de euros. Isto porque os factos descritos na reportagem assentavam nos depoimentos de uma única testemunha – a alegada vítima –, tendo a revista falhado o seu dever de confirmar a informação e de fazer o cruzamento de fontes. "O problema foi a metodologia, agravado por um ambiente em que vários jornalistas com décadas de experiência não levantaram nem debateram problemas sobre o seu trabalho", lê-se num relatório independente, feito depois de a reportagem e a revista terem sido questionadas, e que foi assinado por três especialistas, entre os quais Steve Coll, director da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia e vencedor de dois prémios Pulitzer.

Assim que foi publicada, a história chocou o país e passou a ser usada como exemplo da falta de investigação e punição nas universidades norte-americanas para casos de violação e outros tipos de violência, especialmente contra alunas – um mês antes, as autoridades tinham encontrado o corpo de Hannah Graham, uma outra aluna da Universidade da Virginia, que desaparecera a dois quilómetros do campus universitário. Nicole Eramo foi um dos alvos preferenciais da fúria da população, tendo recebido inúmeras cartas e ameaças.

As investigações policiais que se seguiram não encontraram qualquer prova que sustentasse a história contada por "Jackie". Até que, em Abril de 2015, a revista acabou por pedir desculpa e o director da Rolling Stone admitiu que a publicação não cumpriu as regras básicas de jornalismo.

Na derradeira sessão do julgamento, esta sexta-feira, Elamo alegou que foi representada como uma vilã na reportagem e que foi alvo de difamação, pois no texto surgiam referências à sua pessoa e citações, redigidas a partir do depoimento de "Jackie". Numa dessas declarações, Elamo terá dito que a Universidade da Virginia não publicava estatísticas sobre agressões sexuais porque “ninguém queria colocar a filha numa escola de violadores”.

Do outro lado, os advogados da revista defendem que não existem provas de que a repórter tivesse conhecimento de que o que foi escrito sobre Eramo era falso, admitindo que tanto a jornalista como os editores cometeram erros graves, mas que não agiram de forma propositada ou danosa.

A Rolling Stone disponibilizou-se a pagar os custos legais de Erdely relativos ao processo e as possíveis sanções que se seguirem à decisão do tribunal.

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