Ásia
No Laos, há um herança perigosa escondida no solo
Durante a Guerra do Vietname, o Laos foi fortemente bombardeado pelos aviões norte-americanos. Ainda hoje carrega a pesada e perigosa herança destes engenhos explosivos escondidos no solo.
A avó de Yianyang Bounxieng ainda não consegue olhar com bons olhos para os ocidentais. “Quando trago turistas para a conhecer ela zanga-se e diz-me: 'Porque é que os trazes aqui? Eles destruíram tudo'”. Yianyang, de 28 anos, trabalha agora como técnico de apoio na Mines Advisory Group (uma organização não-governamental que se dedica a encontrar e destruir engenhos explosivos por detonar) mas lembra-se de brincar com as bombas quando era criança. Isto passa-se em Xieng Khouang, uma região verdejante e montanhosa no Laos, que durante a guerra do Vietname foi fortemente bombardeada pelos Estados Unidos.
Entre 1964 e 1973, com o objectivo de sabotar as rotas de abastecimento do exército norte-vietnamita, a Força Aérea norte-americana lançou mais de 270 milhões de bombas de fragmentação sobre o Laos, nomeadamente sobre esta região. Um terço não explodiu, segundo dados da Autoridade Nacional de Regulação de engenhos explosivos por detonar. Desde o final da guerra, mais de 20 mil pessoas morreram ou ficaram feridas em consequência destas bombas. Muitas destas vítimas foram crianças.
É com o peso dessa herança que o Presidente Obama vai aterrar no Laos esta segunda-feira. Será inclusivamente o primeiro presidente norte-americano em exercício a fazê-lo. Barack Obama vai estar na capital, Vientiane, para um encontro com os líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático. Prevê-se que Barack Obama anuncie o aumento do financiamento para os trabalhos de detecção e limpeza das bombas e para a realização do primeiro relatório sobre a presença de engenhos explosivos ainda por explodir no Laos. De acordo com a organização Legacies of War - que se dedica a estudar o impacto destas bombas que o conflito do Vietname deixou como herança ao país vizinho - será necessário gastar cerca de 25 milhões de dólares por ano durante a próxima década para prevenir eventuais acidentes.
O governo acredita que este relatório vai demorar cerca de cinco anos a estar pronto mas os responsáveis no terreno duvidam desse prazo. Phouttasone Nounthabout, que lidera uma das equipas de detecção de engenhos explosivos por detonar duvida, está pessimista: “Há tanta terra ainda por limpar...”, desabafa.
Ainda que o número de acidentes tenha descido nos últimos anos, com o número de vítimas a descer de 300, em 2008, para 42, em 2015, as autoridades garantem que a percentagem de crianças mortas ou feridas tem aumentado. “As crianças são curiosas e tendem a brincar com as bombas”, afirma Balasubramaniam Murali, representante do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, no Laos.
Pomee Kaewpimpa vive na região de Xieng Khouang. Tem agora 59 anos mas lembra-se de ver as bombas caírem, às vezes até três vezes por dia, quando era bem mais novo. Mas mais do que o passado, o que o preocupa é o futuro: “Até que todas as bombas sejam retiradas do solo as nossas crianças vão estar em risco. Será que esses americanos que perfuraram a nossa terra com bombas estão arrependidos?”