Câmara de S. Pedro do Sul quer técnicos para ajudar no ordenamento

O autarca está preocupado com a falta de pasto para os animais e de árvores para a indústria madeireira e quer legislação para a Câmara poder entrar sem autorização nos terrenos dos montes cujos proprietários são desconhecidos.

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Fogo posto está na origem de muitos incêndios florestais PÚBLICO/Arquivo

O presidente da Câmara de S. Pedro do Sul, Vítor Figueiredo, defendeu esta quarta-feira que o Governo deve disponibilizar técnicos que ajudem a fazer o ordenamento da floresta, após o incêndio que começou em Arouca e se alastrou ao seu concelho.

Em conferência de imprensa, o autarca disse que arderam neste incêndio 12 mil hectares – um terço do concelho de S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu –, uma área que se insere praticamente toda na Rede Natura 2000.

Atendendo à situação idêntica de Arouca, no distrito de Aveiro, Vítor Figueiredo considerou que seria "de bom-tom" o Governo enviar técnicos para ajudar a ordenar aquela área. "Com terra queimada será fácil ordenar todo aquele espaço", afirmou.

Vítor Figueiredo contou ter pedido também ao primeiro-ministro, António Costa, que legisle no sentido de, em caso de necessidade, a autarquia poder entrar sem autorização nos terrenos dos montes cujos proprietários são desconhecidos, para não correr o risco de depois estes pedirem indemnização. "Para ordenarmos aquele espaço temos que saber se podemos entrar no espaço de cada um ou não", frisou.

Este incêndio, que durou praticamente uma semana, começou no dia 8 em Arouca e entrou em S. Pedro do Sul: primeiro surgiu uma frente em Fragoselas e Covas do Monte, depois outras em Gestoso, Bondança, Covas do Rio e a última em Carvalhais e Póvoa das Leiras.

Em conversa com o primeiro-ministro em Arouca, Vítor Figueiredo queixou-se de nos primeiros quatro dias o incêndio apenas ter sido combatido com os bombeiros locais, o que motivou a abertura de um inquérito"Toda a gente sabe que o combate a um incêndio se deve processar nas primeiras horas e isto em S. Pedro do Sul não aconteceu. Durante quatro dias não tivemos praticamente ajudas externas nenhumas. Se as tivéssemos tido a tempo e horas tínhamos evitado a calamidade que aconteceu", afirmou.

Ainda que considere que o inquérito é que deverá apurar o que correu mal, o autarca deu a sua "modesta opinião" aos jornalistas. "Penso que o CODIS [comandante distrital] de Aveiro, como tinha outros fogos na área de Aveiro, se preocupou mais com os outros e esqueceu-se deste. O CODIS de Viseu, por sua vez, como também tinha outros fogos na área dele e este era 'importado' da zona de Arouca, provavelmente poderá não se ter preocupado tanto", referiu.

Na sua opinião, a Câmara fez atempadamente o trabalho que devia: promoveu 20 acções de sensibilização nas freguesias, abriu e limpou 127 quilómetros de estradões florestais, passou 194 notificações para limpeza de mato e disponibilizou 48 pontos de água (oito aéreos, 14 terrestres e 26 mistos).

"Num sítio onde o fogo passou foi feita uma faixa de limpeza de mato de 100 metros, que deveria ser o suficiente para estancar o fogo. A verdade é que, não havendo lá nenhum meio de bombeiros para poder combater o fogo, ele passou", explicou.

O Plano Municipal de Emergência e Protecção Civil está feito e "só não foi accionado porque foi enviado a 1 de Dezembro de 2015 para a Autoridade Nacional de Protecção Civil e, desde essa data até ao momento, ainda não foi aprovado", nem foi dada qualquer explicação à autarquia, acrescentou.

Falta de pasto e de árvores 

Vítor Figueiredo disse ainda temer o aumento da desertificação na zona serrana do concelho, após este incêndio. "Durante seis meses os animais não terão qualquer tipo de pasto. Estamos a falar de uma zona de montanha que tem muito gado caprino e muitas vacas", afirmou, lembrando que a região é conhecida a nível gastronómico pela vitela de Lafões.

O autarca disse prever que, por não terem pasto, os criadores de gado vão acabar por vender os animais. "Vendendo o gado, as pessoas não têm nada que as agarre à terra e vai haver desertificação. Havendo desertificação, a situação cada vez mais vai piorar", lamentou.

Por outro lado, o autarca explicou que "S. Pedro do Sul tem uma grande quantidade de pessoas que trabalham e vivem da indústria da madeira e que com esta área ardida irão ter problemas para o futuro". "Sem emprego não conseguiremos segurar cá os nossos concidadãos", repetiu o argumento.

Segundo o autarca, as chamas queimaram seis casas. Uma delas estava devoluta e outra apenas foi atingida no telhado. Arderam ainda 17 palheiros, cinco canastros, um moinho e uma máquina.

A autarquia tem estado a trabalhar para repor a normalidade, tendo começado na terça-feira a limpeza das vias.

No que respeita à electricidade, nesta quarta-feira ainda há uma casa afectada. No entanto, as linhas telefónicas ainda não estão repostas, um trabalho que "irá demorar mais tempo".

Vítor Figueiredo mostrou-se também preocupado com os desmoronamentos que irão acontecer na área queimada e com as cinzas que, com as primeiras chuvas, vão começar a correr para os rios. "É nesses rios, principalmente no rio Sul, que nós fazemos a captação para a nossa população. Se não tomarmos medidas urgentes a população de S. Pedro do Sul irá ter água de fraca qualidade", explicou, acrescentando que a solução passará por "adquirir filtros que são caríssimos".

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