Detidos três homens por tráfico de pessoas para exploração laboral

Foram resgatados 23 trabalhadores estrangeiros de uma propriedade agrícola na região de Almeirim, onde trabalhavam em "condições muito precárias”, descreveu o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Foto
Documentação forjada servia para obter legalização junto do SEF Rui Gaudêncio

Três homens foram detidos, numa operação em Lisboa e Almeirim, relacionada com o tráfico de pessoas, que permitiu resgatar 23 trabalhadores estrangeiros de uma propriedade agrícola, informou esta terça-feira o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

Segundo o SEF, foram detidos três homens – um cidadão português, de 40 anos, e dois estrangeiros, de 32 e 29 anos – e apreendido material probatório da actividade ilícita realizada pelos arguidos, designadamente documentos, computadores e dinheiro. Foi ainda apreendida uma arma de fogo.

Os dois detidos estrangeiros preparavam-se para abandonar o país (já tinham bilhetes de avião para o efeito), adianta o SEF, realçando que a operação Pokhara permitiu o resgate de 23 trabalhadores estrangeiros de uma propriedade agrícola situada na região de Almeirim, onde trabalhavam e se encontravam alojados, em "condições muito precárias e manifestamente degradantes".

Na sequência da operação, o grupo de 23 indivíduos foi levado para local seguro, devidamente acompanhado por elementos da Associação para o Planeamento da Família, que apoiaram a acção do SEF.

A investigação resultou do trabalho de fiscalização efectuado pelo SEF em articulação com Autoridade para as Condições de Trabalho, para verificação da legalidade da relação laboral dos trabalhadores envolvidos na apanha de morangos, nas estufas da região de Almeirim.

Tendo sido detectados "fortes indícios" de prática dos crimes de tráfico de pessoas para efeitos de exploração laboral, auxílio à imigração ilegal e angariação de mão-de-obra ilegal, os factos foram participados ao Ministério Público, que abriu um inquérito. Em causa – refere o SEF – está a actuação do patrão dos trabalhadores e do seu ajudante, que, através de uma empresa unipessoal sediada em Lisboa, contratavam e forneciam trabalhadores estrangeiros a explorações agrícolas.

Durante a investigação apurou-se que os trabalhadores assinaram contractos de trabalho redigidos em português, língua que desconhecem, cujas cláusulas não eram cumpridas, nomeadamente no que respeita a remunerações. "De facto, a alimentação que cada trabalhador recebia era-lhe fornecida mediante desconto no vencimento, consistindo apenas em produtos: massa, batata, cebola e arroz", diz o SEF.

Os trabalhadores encontravam-se alojados em três pequenas divisões de uma construção sem condições mínimas de segurança e higiene, assim como sem janelas e pavimento, cada uma composta por uma sala e cozinha comum e um quarto exíguo, onde cerca de sete pessoas dormiam em camas tipo beliche.

De acordo com o SEF, os 23 estrangeiros tinham apenas acesso a uma única casa de banho, sem água canalizada, e nenhum destes espaços dispunha de electricidade. O alojamento também era descontado do vencimento, que assim ficava substancialmente reduzido.

Além das más condições de alojamento, do parco salário e dos descontos que lhe eram aplicados, pelo alojamento e alimentação, os estrangeiros eram ainda iludidos com a informação de que se conseguiriam regularizar junto do SEF.

Os 23 trabalhadores foram sinalizados como vítimas de tráfico de seres humanos e recolhidos em casas de abrigo e protecção, providenciadas pela Equipa Multidisciplinar Especializada – SOS Tráfico de Seres Humanos de Lisboa, da Associação para o Planeamento da Família.

Sugerir correcção
Comentar